sai com celular em mãos, fala que vai tomar café, porque o cheiro de um passado ali na hora te deu vontade. você quer uma quenturinha nos lábios, na ponta do nariz, descendo a garganta e te tomando o peito. você quer também é passear pelo prédio, deixar de lado as tarefas que te deram, ver outras gentes, não aquelas que te cercam toda manhã, que te criticam pelas costas toda noite. você sabe o que elas dizem e com quem elas dizem. você só não se importa, porque também fala mal deles todos. porque os despreza, esses tão desinteressantes e mesquinhos, que fazem um trabalho medíocre, um que você chega a se envergonhar quando contribui, já que em pouco daquilo você acredita. você não se quer perto demais desses, a distância é amiga. basta de gente ruim na sua vida. você deseja uma convivência apenas respeitosa ali, nada mais. não almeja ser de grupinho, ser das saídas a cada quinta, não quer ser próxima dos homens que traem suas esposas. não quer contato para além do prédio. e, por isso, você tira uns minutos, uma meia hora ou mais, a cada turno, a cada dia, para descer o elevador e tomar um café. e bebe num copinho de plástico num ritmo tão vagaroso. bebe às vezes sem comer nada, mas se distrai com a música do celular. enfia os fones nos ouvidos, se enfia num outro mundo, e continua a bebericar, pequenos e pequenos goles, tipo o beija-flor que pousa no bebedouro da casa da sua mãe. o bichinho que vez ou outra para lá, dá uns beijinhos na água e vai embora. e daí, quando um outro para, você decide acreditar que é o mesmo que há uns dias parou. não te importa que a cor das asas seja diferente, que esse seja maior, você o chama pelo mesmo nome. você diz “zezin, por aqui de novo?”. e o pássaro não responde, só bebe e vai, mas isso para você é resposta que basta. você dá tchau com a mão esquerda, porque a direita segura o paiol aceso. você fala “até a próxima, zezin” entre os últimos tragos e tem fé que voltará a vê-lo. na verdade, você quer acreditar que voltará a ver e a falar com o zezin. e isso você sente como necessidade, você precisa que a cena se repita. porque a sua vida está uma bagunça, no trabalho e na faculdade e no amor. necessita que o zezin volte com sede, porque é a única constante boa da sua vida. o resto está revirado, as amizades têm dado as costas, você se derrama aos outros, inconveniente e intrusa, e sente que ninguém te entende, ninguém quer te ouvir, ninguém te dá colo. e você não percebe que todos te escutam, mas você não ouve ninguém. não vê quantos te chegam com amor, de braços abertos, e você enrola a todos. você não sabe se decidir, tampouco quer. você quer todos esses braços e abraços para si, não aceita que só deve ter um. você devolve a eles uns respingos de amor, uma coisa tão pouca de atenção, uns farelos que não matam a fome, apenas dão mais vontade. é assim que você os convence a ficar, você os seduz a ponto de permanecerem onde não cabem todos. só há espaço para um, você sabe disso. você escolhe um, sem avisar aos outros. a esses, o silêncio. você não menciona o escolhido, você não o trata como parte da vida, mas ele é. daí aos poucos, esses outros, os rejeitados de amor, percebem, entendem o que se passa. eles notam que há um que te toma, que te comove como eles não sabem fazer. indagam as razões para continuarem ali por uma pessoa que não os quer, não de verdade. e quando decidem ir embora, feito o zezin, só que eles não se saciaram de água, eles ali somente tiveram mais sede, quando eles tomam outro rumo, você se agita. você não se permite abrir mão deles. você não os quer longe, mesmo que não os deseje tão perto assim. você os quer como admiradores, como refúgios de um ego muito ferido seu. você adora ser adorada. você se excita com o tesão que os outros sentem por você. você sabe como fazê-los mudar de ideia. sabe bem, não te é esforço algum. você os chama, entra em contato, manda uma coisinha ali, outra aqui, é mínimo, é sutil, é apenas uma marca da sua presença, é também um lembrete e um pedido para que eles não se esqueçam de você, afinal você ainda está ali. você faz isso na sua própria frequência e do seu próprio modo, não importa muito o retorno que tiver. você continua, continua e continua. você os atrai, alcança o objetivo. e quando esbarra com eles, você esboça um sorriso que é lido como singelo, você toca nos braços deles de jeito muito suave, e você os encara nos olhos e diz ‘aparece qualquer dia para tomarmos um café’. 


Giovana Erthal

é niteroiense e cursa jornalismo na UFJF. Suas influências variam com o tempo e o humor.


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