Querido Cartola, o mundo é um moinho. E eu tento cantar ‘take it easy’ 

Para começar esse texto eu busquei costurar um pouco do denominador comum que me fez e faz escrever para a Trama desde 2019. Atraquei no texto da edição N100. Curiosamente, em 2021 já existiam alguns subsídios para se pensar a relação com o tempo: pertencimento ao futuro, autopercepção de eternidade e um olhar generoso para a morte em Murilo Mendes. Essa tal curiosidade é calcada no sufoco de uma globalização desgovernada, produção e circulação de notícias infundadas, nos vídeos virais (ou não) de plataformas que sempre informam e dizem e ponderam e opinam e ensinam e praticam e lifestyle e coaching e especialistas e músicas de streaming e novos trambiques e money is success e tantas outras coisas que já me pesou o ombro, os olhos e cansou a respiração. 

O salto de experimentação do tempo num espaço de 3 anos não espelha transformações pessoais ou uma experiência individual, ao contrário, há um coletivo simplesmente cansado de saber: se conhecimento é poder, o seu caminho agora é marcado pelas montanhas da desinformação, que sugam à vontade até que haja pouco (ou nada). Para chegarmos a alguma coisa, faz se necessário sempre desconstruir algo por esse mesmo caminho e, tamanha estratégia dos que desinformam, parece pautar-se mais pelo cansaço, que provoca desequilíbrio e satura a qualidade da informação, a qualidade da vida e do tempo. Ou seja, para acessar 1 conhecimento, precisamos desconstruir 78.546 mentiras ou meia verdade e tantas outras faltas. Longe de ser uma defesa desse estado, somente enquanto condicionante e invariável, há uma iluminação fora do tempo, como escreveu Mendes. 

Iluminar-se, no entanto, tem se encaminhado cada vez mais para uma percepção individualizada da experiência humana, como se cada um resolvesse sua vida sem quadros que, no entanto, não fazem parte do nosso controle, um exemplo: o cansaço mental e físico produzido pelo capitalismo, pelo engessamento dos direitos, supressão do descanso, produção de culpa quando há ócio, impulso da mentalidade neoliberal way of life e a profunda e contínua insatisfação própria quando o que se faz não entra na agenda de produtividade e/ou funcionalidade. 

Essa emergência de uma ação coletiva passa, por sua vez, por uma percepção individual, que só se mostra factível quando vivenciada — raramente pela empatia, uma vez que terapia, por exemplo, muita das vezes é usada como tótem por outros para nos questionar sobre nosso sentimento: o cansaço da rotina —. De todo modo, fiquemos com o que temos: nos indignar coletivamente contra os males da desalfabetização digital, do mundo beirando o colapso com o capitalismo absurdamente selvagem, do neoliberalismo que organiza a mentalidade sobre ser alguma coisa, enfim. Revolução pode ser subverter a ordem desse tempo categorizado como dinheiro, redimensionando o seu sentido de modo com que nossas tarefas caibam na coesão do esforço. Coesão do esforço. 

Experimentar o tempo, portanto, pode ser repensá-lo nas bases que iluminam nosso dia a dia: um almoço com a família, uma cerveja no meio da semana com amigos, uma corrida para manter-se saudável e, não, para seguir uma cartilha vendida digitalmente como cool, uma apreciação do tempo e espaço enquanto não “produzimos” nada. Respirar. Beatles já cantou: take it easy


Gyovana Machado – Doutoranda em História pela Universidade Federal de Juiz de Fora e Mestre em História. Pesquisadora associada ao Laboratório de História Econômica e Social com trajetória e experiência nos espaços de confissão protestante. Formada em Seminário Teológico e curiosa nas leituras sobre Teologia Feminista, Teologia da Libertação, Missão Integral e demais veias decoloniais de leitura teológica. Atualmente, pesquisa capelães e capelanias em Minas Gerais colonial. 


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