Tabacaria

Era uma rua mística e aprazível cercada de vários comércios, formando um pequeno mundo de intimidades forjadas durante as muitas intempéries do tempo e das estações. 

Os dias nesse claustro cheirando a fumos os mais excêntricos, jornais, cartões postais e magazines, continham poesia e sucessivas expectativas de que os dias pudessem trazer novas histórias, através da freguesia seleta e constante, e dos olhares inesperados dos forasteiros. 

A minha tabacaria era uma vida a parte, cheia de personalidade e atitudes próprias. 

Herdada de uma alça da família, construiu-se em meio a cuidados, atenções e gentilezas remotas e perenes, ao som do tilintar da porta se abrindo e fechando ao longo das mudanças do mundo. 

Do lado de fora o cheiro de café fresco e croissants a se misturar com a busca do melhor cartão postal e das palavras certas para enviar a alguém há muito na lembrança. 

Essa poética, romanesca rotina, é a tela da qual faço parte como uma imagem lateral, personagem oblíquo de um sonho que se define a cada dia. 

Interminável pintura, exigente na escolha das cores, da luz e dos motivos retratados. Os pedidos, desejos, semblantes esperançosos de encontrar algo perdido e ainda não achado dos que, por acaso, acabam por se projetar na pequena rua mística criam, sem saber, um universo repleto de constelações e estrelas com seus exclusivos mistérios e leis. 

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