Roberto não conseguia evitar chegar atrasado no trabalho. Sempre levava esporro do chefe. Não era porque acordava tarde, que perdia o ônibus ou que este passava fora do horário. Roberto se distraía com pequenos gestos do dia a dia.
Certa vez, enquanto caminhava até a parada de ônibus nas primeiras horas da manhã, admirou o sol erguendo-se sobre as casas. Não deu em outra: perdeu o ônibus. Em outro momento, chegou a pegar o ônibus, mas assistiu uma mãe fazendo seu neném rir no banco ao lado. Roberto passou de três paradas da sua.
– É inadmissível, Roberto – repreendeu o chefe – Você está atrasando demais! O que está acontecendo?
– Desculpe, seu Armando, só me distraio com o que tem no meu caminho e não percebo o horário.
– Deixe de ser moleque e se recomponha como um homem, pare de ser irresponsável! Mais um atraso e te ponho pra fora por justa causa!
Dito isto, Roberto decidiu voltar à realidade. Prometeu a si que iria seguir seu caminho ao trabalho, atento. Programou-se como um respeitável proletário. Deixou de ler aquele livro inútil do Manoel de Barros, quando chegava em casa. Até mesmo chegou antes do horário por duas semanas.
Na primeira hora da manhã do décimo dia útil do mês de abril, seguiu novamente a sua rotina monótona. Esperando o ônibus passar, observou uma fila de saúvas levando pedaços grandes de folhas, cada uma, na beira do asfalto. Por pouco não perdia o ônibus. Começou a chover e Roberto assistia a cada pingo de chuva deslizar no vidro da janela. Passou do seu ponto. Desesperado, desceu no ponto seguinte e foi correndo sob a chuva. Percorreu quatro quarteirões, a chuva cessou. Quando esperava o sinal de pedestres abrir, já cansado da corrida, fixou os olhos em um cão preto que desafiava a correnteza de carros que passavam pela outra pista. O cão ziguezagueava e corria por entre rodas e pára choques apressados. O sinal de pedestres abriu e já eram mais de sete e meia da manhã.
E mais uma vez, Roberto estava atrasado, por admirar os pequenos gestos, quando já estava a uma avenida do prédio do trabalho.
Paulo Brás é cantor, compositor, poeta, autor e discente de Letras Português na Universidade Estadual do Ceará. Mora em Itaitinga, Ceará. Publicou seu primeiro livro Filhos da Vida e Outros Poemas, pela editora Premius, em fevereiro de 2021. Em novembro de 2022, lançou seu EP Autorretrato de Um Quadro Em Branco.
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