O que falta para preencher 

Quando o pacote de bala foi colocado sob o retrovisor, o rapaz que estava no banco de trás do carro nem percebeu, seu motorista não se deu o trabalho nem de abrir o vidro. O jovem vendedor passou desiludido pegando de volta as balas, ainda não havia vendido nada naquela manhã, foi quando seus olhares se cruzaram. 

O Sol estava quase a pino, o calor era implacável, sem esperança Tuca decidiu voltar para casa. Ele sabia que sua mãe não estava, àquela hora devia estar mendigando sentada em alguma rua do centro com seu irmão menor.  

Estava morrendo de fome, abriu o armário não tinha nada, sobre o fogão panelas vazias, pensou na sua manhã tentando vender balas no semáforo, havia sido um dia perdido, nem um pacotinho de bala conseguiu vender. 

Com a barriga vazia e sem dinheiro, não sabia o que fazer. Tentou dormir, até conseguiu, mas o vazio que sentia dentro de si o fez acordar e decidiu sair para novamente correr atrás dos carros vendendo suas balas. A tarde estava quase no fim, andava desanimado, passou pelos grandes prédios da parte rica da cidade, imaginava que ali todos teriam comida farta, uma vida cheia e muito dinheiro no bolso. 

Foi quando seu olhar cruzou novamente com o rapaz do carro. Ele vinha com soberba andando pela calçada, plenamente, quase se tocaram. Tuca passou cabisbaixo, na esquina decidiu sentar um pouco, no meio fio ficou refletindo sobre a vida: porque numa cidade tão cheia, nada me preenche? 

Luiz Carlos de Fonseca Tavares percebeu quando seus olhares se cruzaram de novo, mas estava muito desanimado para dar qualquer atenção àquele gesto. Passou pelo porteiro do prédio, nem o boa tarde respondeu. Entrou em seu apartamento e a cozinheira ainda o aguardava com a mesa feita e a comida quente. 

— Não vai comer patrãozinho? 

Não se deu ao luxo nem de responder, entrou em seu quarto batendo a porta e ficou refletindo: tenho tantas coisas, possuo tudo o que quero e ainda sinto este vazio. 

Olhou seu computador gamer, sua cadeira giratória, todos aqueles livros, seus antigos brinquedos. Sabia que dinheiro não lhe faltava, mas se sentia oco. 

Foi até a janela, pensou em se jogar, mas aquele ato não preencheria a lacuna interna, tinha tanto e nada era o suficiente para acalentar sua alma, se questionava: porque numa cidade tão cheia, nada me preenche? 

Se debruçou no parapeito e viu lá embaixo, no meio fio, o rapaz sentado, seu olhar se cruzou com o do jovem novamente. 


William Roberto Fraga Ramires, residente em Andaraí (BA), Chapada Diamantina. Começou a escrever em 2023, participou com seus contos e crônicas em mais de 100 antologias. Buscando provocar e estimular a leitura, escrevendo para um mundo melhor. Colorindo e perfumando as palavras. @william.rf.ramires 


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