Desencontros

No dia em que você partiu

Eu te esperei

Em um café

Para a despedida.

Eu caminhei pelo Museu de Imagem e Som 

E imaginei a tua ausência 

Em uma galeria de arte.

Eu li Amavisse duas vezes

Eu vi o dia mudando de cor 

Eu esperei tempo inesperado

Porque tinha esperança

Que você chegasse 

E me dissesse

Que ficou preso no trânsito.

E telepaticamente

Você escreveu

“Estou preso no trânsito”

Mas nunca chegou

[Imagino o trânsito

O tempo

Parado

E você lá até hoje]

Amavisse: viver um dia feliz

No meio de um dia estranho, Hilda, você estava lá

E antes de eu me convencer a abrir mão da minha insistência

Antes de desarmar qualquer expectativa 

Eu precisei fazer o trabalho

De me dar conta de que era só eu

De que não haveria despedida

E eu já não sabia se isso era triste.

Na calçada

Aguardando o táxi pra casa

Um cachorro saia de uma briga

E vinha em minha direção

Com sangue na boca

[Não me despedir de ti

Poderia ser, também

Uma sentença de morte?]

Um carro para em minha frente

E uma mulher desesperada desce aos prantos

Com uma guia na mão

Ela se abaixa ao lado do cachorro

E seu choro familiar

Acalma o bicho

Ela leva ele pra casa

O susto suspende o que aconteceu no meu coração 

Penso comigo

Há coisas piores

Do que não dizer adeus

E também,

Há despedidas que acontecem antes

Que acontecem enquanto

Que acontecem o tempo todo

Nos desencontros.

Você nunca saberá

Os detalhes sórdidos

Da minha espera

E isso também é um ponto

Mas nunca temos nada terminado

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