Pensar sobre a educação negra e antirracista no Brasil requer uma breve análise sobre alguns movimentos negros contemporâneos como a Frente Negra Brasileira (1931), o Teatro Experimental do Negro (1944) e o Movimento Negro Unificado (1978).
Na primeira metade do século XX, mais especificamente no ano de 1931, a Frente Negra Brasileira (FNB), fundada em São Paulo por Arlindo Veiga dos Santos – um homem controverso por elogiar governos fascistas da Europa – se apresentaria como uma das primeiras organizações com o objetivo de integrar o negro na sociedade ao oferecer uma espécie de ajuda mútua às chamadas “pessoas de cor”.
Dentre os mecanismos utilizados pela FNB para atender essa população, podemos citar a criação de uma escola e a oferta de cursos de formação política, de artes e ofícios.
Vale ressaltar que esta organização surgiu no início da Era Vargas, ou seja, um período em que a Educação era pautada em legislações que visavam a exclusão dos corpos negros e baseadas em fundamentações científicas eugenistas e racialistas.
O Estado queria o “aperfeiçoamento da raça” buscando civilizar e eliminar a maior quantidade de elementos inferiores, os negros e mestiços, que eram em sua maioria analfabetos e considerados como uma representação do “atraso”. A própria Constituição de 1934 reforçava essa questão problemática e preconceituosa ao estimular a educação eugênica, confirmando a existência de uma sociedade altamente racista.
Quase no fim do Estado Novo, houve o surgimento de uma organização importante que denunciava o preconceito racial e mostrava que o negro era dotado de visão intelectual: o Teatro Experimental do Negro (TEN).
Fundado em 1944, no Rio de Janeiro, com Abdias do Nascimento como uma das principais lideranças, esta entidade se constituiu como companhia teatral composta por pessoas negras que, com o passar do tempo, adquiriu um caráter amplo ao oferecer cursos de alfabetização para seus membros.
Tais mobilizações comprovam que estas organizações tinham um forte apelo educacional. Elas denunciavam o racismo ao mesmo tempo em que se preocupavam com o analfabetismo e a lenta inserção de pessoas negras nas escolas lidas como oficiais.
A partir da década de 1970, mesmo o país vivendo os horrores dos “anos de chumbo”, houve um crescimento significativo de movimentos populares, incluindo movimentações da própria população negra por todo o Brasil que havia sido silenciada e perseguida em anos anteriores.
Mas, o ano de 1978, especificamente, viu nascer o Movimento Unificado Contra a Discriminação Racial (MUCDR). Além de contestar a ordem social vigente, o MNU desferiu diversas denúncias contra o mito da democracia racial.
No que diz respeito às legislações educacionais atualmente, a luta do Movimento Negro Unificado é tida como a principal responsável por ressignificar a posição do negro na História do Brasil dentro das escolas. Porém, nunca devemos esquecer os movimentos que vieram antes dele.
Por fim, entendemos que a FNB, o TEN, o MNU e tantos outros movimentos, surgiram para quebrar paradigmas pois, foram essenciais para a instrução da população negra de maneiras diversificadas. Como consequência, alguns clubes sociais negros acab aram se transformando em espaços não formais de aprendizagem.
Sobre o 20 de novembro em si, a escolha de Zumbi dos Palmares como símbolo de resistência no lugar das comemorações do 13 de Maio e a falsa benevolência da Princesa Isabel, nos faz refletir. O Dia da Consciência Negra, hoje, é um momento que devemos utilizar para rememorar tudo o que estes e outros movimentos negros fizeram e, ainda fazem, pela educação antirracista do país.
Referências
DOMINGUES, Petrônio. Movimento Negro Brasileiro: alguns apontamentos históricos. Revista Tempo 12 (23), 2007, p.100-122.
FRANCISCO, Mariza da Silva. Os corpos negros na Era Vargas. Revista África e Africanidades – Ano XII, n° 32, nov. 2019, 1-12.
Jessica Lopes de Assis
é Licenciada em História pela UNIRIO e Mestre em História pela UFJF. É Educadora Social no Movimento Ética na Política – MEP e, participa da equipe de Projetos do Clube Palmares de Volta Redonda.
Juliana Lopes de Assis
é Licenciada em Pedagogia pela UNIRIO com principal área de interesse em educação antirracista e ambientes não formais de educação.
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