liguei pela terceira vez

eu queria saber se distanciamento era de fato
necessário, causado por algum motivo não determinado,
superveniente, inevitável,
irresistível e fora do alcance humano.
porque se fosse assim, seria totalmente justificável.
houve algum afeto do qual não me lembro?
alguma coisinha de nada que tivesse ficado no fundo de uma gaveta?
um convite extraviado?
você, você, você
são tantos que pra você, um eu são eus
você que tem em seu bolso direito a primeira inconfidência
e em seu bolso esquerdo o primeiro susto,
daqueles que deixam as bichas da barriga atacadas.
em sua mão direita, a minha esquerda
que se derretia e se refazia e voltava a se derreter
durante as orações
durante a subida até o topo do monte
de onde pendem as cruzes, todas elas
que é onde as coisas terminam ou nunca começam
onde encontramos um motivo cruz-credo
concreto o suficiente para jogar os móveis pela janela.
houve algum afeto do qual não me lembro?
alguma coisinha de nada que tivesse ficado no fundo de uma gaveta?
um convite extraviado?
você, você, você.

Deborah Vieira é formada em Letras pela Universidade Federal de Pelotas e é mestranda em Literatura pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Acompanhe a Déborah no Instagram.

Fotografia por: Carolina Ferreira.


Galeria

Apoie pautas identitárias. Em tempos de cólera, amar é um ato revolucionário.



Clique na imagem para acessar a loja virtual da Bodoque!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *