Houve um tempo em que eu tentava não ser tão pintosa. Houve um tempo em que eu queria resistir, insistir em não me tornar um transformista. Houve um tempo em que eu não queria, de forma alguma, ser chamado de Drag Queen.
Mas por que eu tinha essa resistência e esse pensamento?
Por medo!
Medo?
Sim.
Medo de uma sociedade que nos julga a todo momento. Medo de um preconceito que existe dentro da própria comunidade LGBTQIA+, e não só de fora. Medo dos julgamentos que as pintosas, transformistas, Drag Queens sofrem todos os dias. Medo de ficar sozinho simplesmente por ser quem eu sou, por gostar de fazer o que faço e por expressar uma arte que admiro.
Hoje, tenho orgulho em dizer que sou artista Drag e de me expor com orgulho. De não tentar esconder isso de ninguém – pois se é para gostar de mim, tem que gostar do que sou por inteiro, e não só de uma parte, aquela que tende a agradar a sociedade!
Um dia desses, ouvi uma frase que fez muito sentido pra mim: “está na hora de abraçar a letrinha do lado, e não de julgar e/ou apontar o dedo”. Então, se você faz parte da sigla LGBTQIA+, abrace, apoie e respeite as outras letras; e se você não faz parte dessa sigla, respeite quem faz!
Fazemos parte de uma comunidade que diz lutar pelo respeito do outro, mas que muitas vezes não respeita o outro! Então que tal pensarmos um pouquinho se nós mesmos não estamos sendo preconceituosos, e perpetuando a opressão?
Faço parte do G da sigla, mas sou irmão do L, do B, do T, do Q, do I, do A, e de todos os outros representados nessa sigla pelo +. Todos temos sentimentos, e está na hora de aprendermos a ter empatia. Sou gay, sou Drag, sou artista, mas acima de tudo sou um Ser humano!
Eu sou o Marcos. Profissional de Educação Física, que paga imposto como todo mundo, que trabalha, que paga contas, que vive, que sente, que tem momentos bons e ruins, e que está sempre em busca de um crescimento pessoal, com base no respeito ao próximo.
Eu também sou o Marcos. Artista que dá vida a Uiara Cardinally, personagem, drag, transformista. (Ainda sim, gay! – não confunda drag com trans!)
Estando em Drag ou “Out of Drag”, eu não peço que me aceitem. Peço que me respeitem!
Junho é o mês do orgulho LGBTQIA+ por um ato marcante, mas podemos e devemos ter orgulho de quem somos todos os dias!
Marcos Lima é um homem gay cisgênero. Bailarino, Bacharel em Educação Física, dá vida a Uiara Cardinally, Miss Zona da Mata Gay 2017.
Galeria
Apoie pautas identitárias. Em tempos de cólera, amar é um ato revolucionário.
Clique na imagem para acessar a loja virtual da Bodoque!