A pergunta que elucida os contornos iniciais de qualquer reflexão passa, direta ou indiretamente, no questionamento sobre a forma. Ou seja, levantando a poeira da constante construção interna que somos, possuímos um desafio inerente até chegar a algo visível; e, isso, não diz respeito a apenas uma movimentação autônoma de reação ao mundo, mas também a uma série comportamental que delimita e amplia a nossa percepção sobre o outro. Vou explicar.
O mergulho naquilo que não conhecemos por experiência física -mas sim, metafísica- é um desafio revelador de todas as constantes e rupturas que nos constituíram pela trajetória até então vivida. Passando pelo fio do diálogo, a vida é traçada por uma constante, a saber, o outro. A maneira com que estabeleço e disponho de proporções reflexivas compartilhadas, dirá os rumos que me levaram até aquele momento. Em tudo, percebe se o peso da forma com que manifesto aquilo que é suscitado internamente e, em linhas gerais, aponto a preocupação com a forma e/ou estilo (não apenas narrativo) como um movimento contínuo de caracterização do invisível.
“O que é o invisível?”
Penso ser tudo aquilo que ainda não ganhou face pois, não diz de uma inexistência, mas, sobretudo, de um silêncio externo -que pode ser seletivo ou não-. Damos face ao referido toda vez que o expomos para além da nossa experiência de existência, ou seja, a forma do invisível é uma manifestação plural que congrega uma conscientização presente e/ou passível a explicação histórica. E por qual motivo “histórica”? A assimilação de que sua vida não é um ponto de exceção e paralela a humanidade, mas fruto do que foi construído por essa ao longo do tempo, caracteriza essa experiência por histórica. O diálogo com os que não mais estão aqui, são sentidos pela experimentação, gostos e desgostos da realidade a qual somos submetidos diariamente.
Dan Bilzerian se tornou notícia na última semana. Milionário, exibe uma vida de luxo e ostentação nas redes sociais, sendo plano de carreira para muitos outros homens. Quais são as ferramentas e propagandas que este indivíduo dispõe para refletir a vida ideal? Fotos em automóveis caros, uso de bebidas, festas, corpos sarados, etc. No entanto, se tornou uma polêmica pelo uso de mulheres como souvenirs, objetos decorativos presentes em todas as suas manifestações da “vida ideal”. A objetificação do corpo feminino passa por uma narrativa histórica, mas, certamente, não é do conhecimento e, muito menos, do interesse de Dan B, afinal, a desconstrução desses usos e abusos geraria uma ressignificação pública e privada sendo que, a vida ideal por ele apresentada, frente a esse confronto, seria como folha atingida por um canhão. Assim sendo, respondeu a circunstância com um “suck my dick” em uma de suas redes socias. Demonstra, em forma visível, que o seu intelecto está intimamente ligado e limitado aos impulsos sexuais que o seu pênis indica.
A narrativa do referido é histórica, mas como a sua experiência é a norma com que lê o mundo e “coisifica” aquilo que lhe bem apraz, este possui pouquíssimas probabilidades de romper com o pacto do machismo estrutural e da misoginia adaptada a realidade do capitalismo onde, o bem maior, é a possessão e domínio do outro. Por consequência, temos o silenciamento da experiência alheia ao nosso viver. Além de um mecanismo violento de dominação, se constitui por ser uma ferramenta que mata, lentamente, aquele que a utiliza pois, a solidão, é a forma com que o invisível se manifesta quando não encontra o seu destino.
O caso de Dan é um exemplo visível, mas cabe ressaltar que esta análise sobre as mentalidades poderia se ampliar para todos os casos de preconceito, racismo, homofobia, entres outros. Longe de ser uma justificativa para esses comportamentos, penso em ataques concentrados também no âmbito da mentalidade que faz com que absurdos sejam aceitos acriticamente por parte da sociedade.
Gyovana Machado é Cristã, graduanda em História pela UFJF e formada no Seminário Teológico Rhema Brasil.
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