A vida acadêmica pode ser uma vida muito solitária e árida. Lattes, eventos, taxas, leituras, fichamentos, leituras, escrita. Crítica. Apagar, reescrever, reelaborar, reler, revisar, repensar, reestruturar. Envia. Crítica. Passa. Começa tudo de novo.
O refazer nem sempre se encontra com a refazenda. Gil, o orixá vivo, tem em Refazenda um abacateiro como interlocutor:
Abacateiro teu recolhimento é justamente O significado da palavra temporão Enquanto o tempo não trouxer teu abacate Amanhecerá tomate e anoitecerá mamão
O tempo.
Conhecimento se elabora e produz a todo tempo, em todo espaço. Principalmente se entendemos que o aprender, pensar e ensinar também acontecem nos nossos corpos e relações. É um jogo que nos encontra por inteiro, sabe? E esse jogo tem um tempo. O jogo bem jogado, tem como regra a consideração e observância desse tempo.
Entre uma etapa e outra do processo, há de se respirar e viver.
Eventos, taxas, faça leituras e fichamentos, respira um pouco, vai devagar, se cuida, faça as leituras, cuida da escrita. Confia. Recebe a crítica como crítica e não definição do que você ou seu conhecimento são. Apaga, se necessário. Reescrever e reelaborar são coisas boas de se fazer. Releia com outra pessoa, revise conversando, repense junto. Vai reestruturando com calma. Envia. Crítica. Passou, que bom! Começa tudo de novo. Lattes é consequência.
Entende que é possível ter vida no meio de tudo? A refazenda é entender e respeitar o tempo do plantio e o tempo da colheita. A espera é o que faz madurar a fruta no pé. É no respiro, na tomada de fôlego que o saber se assenta, para logo ser questionado, arredado, conjugado, amarrado em outras pontas, com outros nós. Ainda bem. Dê o tempo.
O tempo e a mirada.
Atenção ao que acontece fora das margens. Ao que escapa do pretenso controle, planejamento e lógica acadêmicos. Existem outros saberes sementes soltos por aí, sementes prontas para a colheita. Caminhos de pesquisa, conversa, troca, epistemologias e escritas. E existe a vida nisso tudo. Tem que existir.
Abacateiro serás meu parceiro solitário Nesse itinerário da leveza pelo ar Abacateiro saiba que na refazenda Tu me ensina a fazer renda que eu te ensino a namorar
Tenho aprendido a ler a sentir essa visão. Essa visão não, esse sentido. Sentido de sentir mesmo, e também de direção. Falando de mim a ti, pessoa que me lê, eu digo que encontrei meu sentido na academia justamente no coletivo. Embora o recolhimento seja parte do percurso, que alegria os olhares e as vozes de companheires de jornada. Que contentamento pensar nos camaradas que virão.
Refazendo tudo Refazenda Refazenda toda Guariroba
Lorraine Mendes é professora substituta da EBA-UFRJ, Doutoranda em Artes, Cultura e Linguagens pelo IAD-UFJF, artista e tatuadora.
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