A pandemia mudou o rumo de toda a nossa socialização, tem desestabilizado a nossa estrutura emocional, profissional e econômica, tem mudado a nossa percepção cultural e artística.
O boom de músicas e produções talvez não tenha alavancado tanto porque ele já existia desde a consolidação das plataformas de streaming (do Palco Mp3 até o seu Deezer ou Spotify), mas, a visibilidade do artista mudou.
Mudou em alguns aspectos, os grandes artistas passaram a ver e descobrir novos sons, encontrar versões de suas produções e isso, é um fenômeno que irá se refletir no pós pandemia na sua cidade, pode apostar nisso!
Quando um Milton Nascimento encontra e curte um cover de alguém que soe desconhecido da grande mídia, esse “achado” automaticamente migra para uma pasta que viaja no tempo. Fica ali o registro e o prelúdio de um contrato com um selo.
Quando um artista local começa a fazer lives em horários incomuns aos das grandes bandas, o mesmo passa a buscar ser a banda que sobe antes no palco para abrir o show.
A análise então é que, de certa forma, a banda do seu amigo e um Paralamas do Sucesso, chegarão ao pós pandemia em um certo “pé de igualdade”.
Eu não enlouqueci nesta pandemia, juro.
O que digo é sobre a chance de uma banda local ser a principal atração da casa de shows da sua cidade é a mesma que a de um show do Paralamas, afinal, a crise econômica afeta a todos os tipos de comércios, alguns positivamente como os lanches e deliverys, outros negativamente como espaços de aglomeração social, lojas de roupas, casas de shows, estúdios, bares, estes estão sentindo ainda mais a escassez do dinheiro correndo pelo fato do isolamento social.
O que nos leva a seguir na reflexão de que é possível, que venhamos a presenciar um renascimento dos shows locais.
Faz 3 anos eu acompanhei e auxiliei uma amiga em orientação ao TCC dela, sobre moda, feiras itinerantes e a praticidade dos displays expositores. Tal trabalho me fez entender a dimensão do renascimento de feiras populares, suas reinvenções e parcerias para se manterem atrativas deveria ser um constante objeto de estudo (e eu vou abordar esse movimento muito em breve em outro texto), pois as feiras conquistaram a proeza de integrar a praticidade tecnológica na publicidade e em vendas on-lines de marcas não tão conhecidas no seu Instagram e isso não para por aí, o movimento de atrair compradores para espaços comuns nas feiras é de uma proeza que remete tanto as feiras medievais (único rolê disponível na época), quanto as feiras que se popularizaram na transição econômica e democrática do nosso país, a exemplo a feira de BH.
Mas como dito antes, isso é assunto para outro momento.
O que me atraiu e me motivou a este texto é que eu, fã de bandas da minha linda JF como Contratempo (@bandact), Legrand (@legrandbanda), Obey! (@bandaobey) e outras mais além dos artistas solo, hoje tem a oportunidade de ter seu som ecoado em paredes por onde tocaram alguns de seus ídolos, e isso é algo realmente importante.
As casas precisam ser lembradas de seus artistas locais, esse é o momento!
O meu e o seu papel é sermos os amigos chatos que compartilham o som mais do que a figurinha de algum meme novo na internet.
A crise de alguns é de “ah, mas eu não gosto tanto do som, só apoio ele”, se tu é amigo, você precisa ir além do incentivo pessoal, e isso serve para seu amigo músico ou que produza outro conteúdo. É preciso entender que compartilhar e valorizar o trabalho dos nossos vizinhos artistas, é o que pode ajudar a reerguer a vida econômica, cultural e afetiva na sua cidade!
Quer outro exemplo?
Durante a primeira guerra, o boom do Jazz vindo com os soldados americanos que viveram o combate e ficaram aquartelados antes, durante e depois da guerra gerou uma cultura ainda mais forte de bares, os ritmos embalaram sonhos, renovaram o amor e a esperança, e isso parece utopia, mas tire um breve tempo e pesquise sobre o jazz e a primeira guerra no google ou ainda, pesquise sobre a música e a guerra; vai encontrar pesquisas e reportagens relatando o quanto a música transformou realidades a partir de simples “balanços”.
Quando penso no cenário e converso com amigos, alguns já contemplam o mesmo sonho, festivais mais baratos, com qualidades musicais iguais ou superiores aos de nossos ídolos, e isso não é errado, a cena musical vive evoluindo, com um potencial de aplacar uma troca de tiros como as celebrações natalinas nas trincheiras que uniram dois lados de uma guerra sangrenta para comemorar o natal, cantar canções, sonhar com um mundo pós guerra.
Esse parágrafo é uma referência ao filme Feliz Natal, você deveria assistir, os relatos são baseados em cartas trocadas e que foram escondidas por um tempo para negar qualquer relação amistosas entre as forças beligerantes.
É tempo de novos Iacangas, uma nova Tropicália, é tempo de planejar feiras, festivais, eventos, olhar e dar a voz aos sons, luzes e cores que ecoam, iluminam e transformam a cara das nossas cidades!
Em breve vocês acompanharão entrevistas com bandas e produtores daqui da nossa bela Juiz de Fora, e eu espero ter suas indicações para construirmos uma “Teia Musical” na nossa revista tão querida!
A moda, a gastronomia, a literatura, são as bases musicais que precisamos para uma nova sinfonia, um novo hino à igualdade, liberdade e fraternidade.
Kariston França é apaixonado por pizza, e nas horas vagas atua como entusiasta da teologia pública.
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