Ah, os adultos… Portadores do ingênuo pensamento de que temos controle de tudo em nossas vidas.
Desde o instante em que a fina pele de nossas pálpebras sente os raios de sol atravessando as frestas da persiana até o momento em que o chá de lavanda aquece tuas mãos antes de dormir, tudo simplesmente acontece. Não foi tu quem decidiu, pensou ou planejou. Há quem acredite que é obra Deus, fonte de cura e fé. Outros, na mente e nosso inconsciente.
Tem também o acaso, mas esse é muito polêmico. Deixemos para outro dia… Ou vida.
O fato é: O que há de ser nosso tem muita força e a jornalista gaúcha Flávia do Valle possui uma prova genuína e potente disso, sabe por quê? Ela viveu.
“Uma mulher que é quase uma força da natureza, intensa e potente em cada batida do seu coração.
Hoje, a história é de amor. Amor raiz, real e quase impossível. Quase, porque tudo o que é para ser, será.
Sempre fui menina mulher com ideais fortes e pouco sonhadora. Muito real e raramente me considerei “ideal”, pois todo jovem carrega uma alma sedenta por liberdade e eram um tempo em que as pessoas casavam para ter filhos e eu… Bom, tive filhos, mas a instituição “casamento” nunca foi meu sonho. Queria mesmo estudar, trabalhar e conhecer pessoas que para mim eram inteligentes, sábias. Queria beber dessas águas para me desenvolver, me fortalecer.
Mas vem a vida, nos mostra que não temos controle de nada, e surpreende. Eu, que queria nutrir minhas asas e voar, conheci o amor instantaneamente aos 17 anos. Olhei pra ele e já ouvia a marcha nupcial e o aroma leve de doces de côco no ar. Foi recíproco.
Namoramos durante 2 anos: eu no Rio Grande do Sul e ele em São Paulo. Fomos mestres em estarmos perto um do outro fosse pelo estudo, pelo trabalho ou por outros afazeres.
Chegamos num ponto que precisávamos tomar uma decisão pois estavam desgastantes as viagens e compromissos.
Então, meu querido parceiro me pediu em casamento e eu abri meu coração. Com firmeza, falei: “Quero ter um bebê”.
Ele reagiu de forma quase irreconhecível e dei uma única noite para que pensasse com calma. Logo veio a resposta, como um rasgo no meu peito: “N ã o”.
Falou que já era pai de 3 filhos e não havia dado certo. Então não queria “errar” de novo.
Essa posição foi decisiva: Nos separamos de vez.
Ele se casou com uma pessoa muito semelhante à mim. Era como se me procurasse em outras pessoas.
Com um vazio no peito, acompanhei cada detalhe por uma revista de personalidades conhecidas da época, e me via sangrando a cada palavra que contava uma história que era pra ser minha.
Foi então que o Deus Cronos estancou um pouco aquela ferida. Me casei, tive uma filha que foi muito sonhada e vivemos juntos por 7 anos até que esse ciclo terminou e segui em frente mais uma vez.
Crente em Deus que sou, sei que ele cuida da gente sempre; e para minha surpresa, alguns anos depois reencontrei o amor da minha vida e no mesmo dia ele me pediu em casamento.
Meu coração cicatrizou, enfim inteiro. Me senti com 17 anos novamente.
Nesse momento, tínhamos a mesma profissão e fomos para Alemanha em trabalho da mesma empresa. Ali, se criou uma desafiadora e sonhada convivência diária.
O tempo passou. Estávamos sempre juntos em compromissos do trabalho e da vida. Era um projeto grande, não foi fácil viver cada minuto do dia com o marido.
Passados 6 anos morando juntos, ele pediu que tivéssemos um bebê. Fiquei paralisada. Como ele pode ter mudado tanto? Mas me enchi de magia.
Levei um ano para engravidar; já tinha meus 35 anos, mas deu tudo tão certo!
Nosso filho nasceu lindo e saudável, casamos numa cerimônia aconchegante e de verdade. Vivemos somente 3 anos de chamego, parceria e amor – pois ele sofreu um infarto fulminante e foi viver no mais encantado dos reinos: O céu.
E a nós? Continuamos aqui, eu e meu filho, fruto do maior amor que já senti. Somos gratos por termos vivido com ele e sabemos que um dia estaremos todos juntos novamente.
Esta é a minha história de amor. O amor que me fez sentir o sangue correr em nas veias, fez sentir meu filho em meu ventre e me trouxe a potência do que é estar vivo.
O amor existe e é muito forte.
O amor, talvez, seja o sinônimo de vida.”
In Memoriam: Luciano do Valle
A história sensível que acabaste ler faz parte do projeto Caçadora de Histórias que migrou das minhas mãos e dos papéis de carta para o Instagram. É um cantinho acolhedor, repleto de ternura e se tu fechar os olhos até consegue sentir o cheiro adocicado de canela e hortelã.
Quer saber como funciona? Te conto: Escolhe alguma história que queria partilhar e envia para o e-mail tuahistoriaaqui@gmail.com.
A partir disso, escrevo-a com minhas próprias palavras, te ajudando a ter um novo olhar sobre tu mesma (o). É um processo de cura das feridas, terapêutico e libertador para ambas as partes.
Faça como a Flávia, que confiou à minha escrita um capítulo muito importante da sua vida e que agora faz parte da aldeia de relatos do projeto e também brilha aqui na coluna da TRAMA.
Victória Vieira – @cacadora.de.historias
Victória Vieira é escritora e idealizadora do projeto Caçadora de Histórias. Caçando e ouvindo histórias, vou escrevendo a tua com minhas palavras e te ajudando a ter um novo olhar sobre ela. Siga o projeto no Instagram.
Galeria: artistas pra seguir na quarentena
Apoie pautas identitárias. Em tempos de cólera, amar é um ato revolucionário.