Apesar de ter morado numa casa cheia de gente durante toda minha vida, desde cedo fui acostumada a fazer muitas coisas sozinha. Ainda criança, não media esforços para inventar minhas próprias brincadeiras e diálogos. Na escola, optava por fazer meus trabalhos individualmente e adorava ouvir minhas bandas favoritas com a liberdade de voltar as músicas sem me preocupar com o entretenimento alheio. Como esperado, agora já com um pézinho na vida adulta, não é diferente. Costumo viajar, ler e cozinhar na mais completa solidão e me divirto muito durante esses processos. Só existe uma tarefa que não consigo adaptar à minha sozinhez: fazer refeições.
Isso porque alguma coisa acontece no meu coração que só quando sirvo o prato de almoço e me sento à mesa estranho a solidão. Quem me vê cantando a plenos pulmões “só, sozinhaAAa! Eu sou sozinha, sim. Eu mesma faço um par comigo” da Alice Caymmi na hora do banho, nem imagina que sempre que vou comer alguma coisa, tento dar um jeito de arranjar algo que me distraia e me faça companhia.
Hoje, a minha companhia é essa crônica. Escrevendo aqui na mesa da varanda enquanto lancho um pastel folhado e tomo suco de cupuaçu, resolvi deixar esse pequeno tutorial para que você consiga ludibriar o desconforto de se sentir só. Bem, se você for atrasado como eu, talvez nem perceba que está sozinho para tomar o seu café da manhã; imagino que usará todo esse tempo para mastigar o misto quente enquanto caminha pela casa e arruma coisas que precisavam ter sido feitas no dia anterior.
Porém, o almoço, esse sim é triste quando não há companhia para conversar amenidades e descansar a cabeça. Já que tenho experiência no assunto, sugiro que, quando esse evento lhe ocorrer, ligue uma música e, caso necessite de distração visual, dê o play em algum vídeo no YouTube, como o Lirinha declamando cordéis do Chico Pedrosa (poucas coisas nesse mundo são mais legais que isso).
Acredito que você também não terá tanto problema no lanche da tarde, já que ele não demanda um tempo considerável e logo você poderá voltar aos afazeres do dia – a não ser que seja um bolo de cenoura com bastante cobertura de chocolate e o clima esteja chuvoso. Nesse caso, você terá grandes chances de sentir saudade do seu avô. Tome cuidado. Por último, quando for jantar, recomendo que ouça algum podcast bem humorado para ter aquele momento em que a companhia está lhe contando como foi a semana ou o que aconteceu no mundo. E aí, mais tarde, já estará pronta para ir dormir sozinha.
Ingryd Cordeiro é paraense, estuda Direito e escreve crônicas para publicar em seu perfil do Medium.
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