O aperto dos dedos enrugados nos meus, pequenos e curtinhos, era para eu não mexer em nada proibido. Minha avó, bem cuidadosa, precavia-se para que eu, curiosa criança, não pusesse as mãos em nada, tudo era muito valioso. Os pés escorregavam no piso encerado, madeira brilhante. Usávamos pantufas com fundos de pelúcia, sapatos guardados até a saída. Tanto brilho, tanta história. Tudo estava reluzindo aos olhos da criança de cardigã amarelo, com dedos doídos. As coroas haviam sido roubadas, mas as réplicas já brilhavam muito! Como seria carregar 18 quilos sobre a cabeça? Ser princesa não era tão fácil assim. Ninguém dizia que isso acontecia lá nos contos de fadas. Cada lindo sonho se misturava à realidade (realeza?). O peso das pedras preciosas, os príncipes nos cavalos brancos, os dedos apertados e as pantufas fofas. Difícil ser princesa no mundo daquela infância. Um museu parecia algo que se distanciava muito do possível. Das coroas só o brilho interessava. Dos dedos entrelaçados, sobraram a preocupação, o amor de avó e a saudade, Que hoje aperta, não a mão, mas o coração. A saudade de quem já se foi e não tem museu pra contar sua história.
Helga Carvalho Baptista de Almeida, vencedora do primeiro concurso de poesia do Museu Mariano Procópio em parceria com a Bodoque.
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