Estamos há meio ano lavando as mãos e abrindo portas com os cotovelos. Estranho quando temos nossas ações que se tornaram cotidianas expressas em palavra escrita, né?
Escuto constantemente as pessoas dizerem que 2020 foi um ano inválido, que não contarão como parte de suas vidas e que esperam por 2021 com a ânsia de uma criança no primeiro dia de aula. Desculpa te decepcionar, mas nada vai mudar se tu não acolher a transformação também.
A humanidade caminhava desolada, cometendo uma série de erros graves e foi preciso um vírus invisível aos nossos olhos para que pudéssemos parar as máquinas e olhar pra dentro… E ao redor.
O coronavírus trouxe desentendimento, dor, perdas devastadoras. Mas veio também o exercício real da empatia, o sacolejo de que não somos eternos e o poder da reinvenção.
Como já disse lá no começo, estamos há muito tempo higienizando tudo que vemos pela frente. Mas e quanto à higiene do mundo? Espiritual e comportamental, quero dizer. O que fica de tudo isso?
“Sempre corri.
Corri de manhã, para despertar meus músculos e metabolismo; corri para preparar o café; e corri também atrás de inúmeros ônibus. Corri de pessoas que me faziam bem, porque tudo um dia termina e eu temia o sofrimento. Também corri do que me fazia mal: afinal, queremos sobreviver. Eu corri tanto que… Cansei. Mas não fui eu quem decidiu parar, foi a vida.
A vida que faz um pequeno e traiçoeiro vírus existir e contaminar milhões de pessoas num planeta abençoado e rico como o nosso. Eu parei, respirei e aí senti doer tudo, sabe? De dentro pra fora. E não havia banho de ervas, massagem ou relaxante muscular que me trouxesse alívio. Eu precisava mesmo era começar do zero, e foi a mais maravilhosa e transformadora decisão que tomei.
Quando me vi dentro de casa, sozinho, sem trabalho e também sem poder sair, me desesperei e comecei a lamber minhas feridas até secarem. Peguei minhas economias e comecei uma faculdade online. Junto a ela, me empolguei para estudar italiano, um sonho antigo. Como precisei desacelerar, encontrei na yoga a conexão comigo mesmo. E a partir daí, o mundo se abriu, devagarzinho, dia após dia.
A rocha que eu era se transformou em pequenos cascalhos banhados por um riacho cristalino de autoconfiança e paz, fazendo com que conseguisse deixar as pessoas entrarem na minha vida. Foi então que Helena, o grande e único amor da minha vida, voltou para mim. Estamos juntos agora, e ela aquece, em sua pança-forno, Emiliana, nossa filha.
A quarentena me trouxe a cura, o caminho de volta pra mim mesmo. Quando tudo voltar ao normal, não voltarei a correr. Agora tenho com quem caminhar, lado a lado. E logo estarei correndo, mas, calma. Será atrás de um par de pernas gordinhas que estará aprendendo a viver, assim como eu. Todos os dias.”
Gostou da leitura? Então vou te contar um segredo: Contar histórias é a medicina da minha vida.
Uni tudo isso num projeto que floresce de maneira vagarosa e especial que se chama “Caçadora de Histórias”. Tu podes conferir ele lá no Instagram e se quiser participar, escreve para mim através do e-mail tuahistoriaaqui@gmail.com e me deixa te ajudar a enxergar a heroína/herói que és em tua própria trajetória.
Victória Vieira é escritora e idealizadora do projeto Caçadora de Histórias. Caçando e ouvindo histórias, vou escrevendo a tua com minhas palavras e te ajudando a ter um novo olhar sobre ela. Siga o projeto no Instagram.
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