Há alguns dias, enquanto me arrumava para o trabalho, reparei na mulher que refletia no espelho. Não a tenho reconhecido. O reflexo que me recordava era o de uma menina, com os cabelos curtos, olhar perdido, coração sonhador e inúmeros planos. Recordo-me daquele rosto mais novo, com poucas olheiras, um piercing aqui e outro ali, um sorriso perdido e algumas certezas.
Aquele novo rosto me assustou um pouco, confesso. Era um rosto cansado – da vida, talvez. Algumas olheiras, umas poucas rugas ao redor dos olhos, um sorriso apagado, poucas certezas e quase nenhum plano. O que, afinal, aconteceu com aquela jovem? Para onde ela havia ido? Tenho-me questionado sobre isso e venho tentando lembrar mais detalhes; mas sinto que, aos poucos, ela também está indo embora de mim.
Não sei explicar. Talvez por não reconhecer o que vejo, acabo não reconhecendo a mim mesma. Mudei, é verdade! E não sei se para melhor ou pior. Não sei se a culpa foi da vida, ou se foi minha; mas tenho sentido falta daquela menina sorridente que fazia planos e imaginava a vida como um certo conto de fadas, com o príncipe, o castelo, os principezinhos e tudo o mais.
Questionei-me quando, afinal, ela se foi e eu cheguei, mas não consigo encontrar um momento exato. Acho que acabamos nos esbarrando durante a troca e sequer percebemos. Pergunto-me se ela pode me ver. Se tem vergonha de mim, se sente vontade de me gritar seus sonhos e me dizer que estou fazendo tudo errado. Se você estiver lendo isso, antiga menina do espelho, por favor, me ajude.
Às vezes, precisamos mudar; porque é melhor, porque é importante, porque é preciso. Outras vezes, precisamos amadurecer, simplesmente porque faz parte. Mas o que não podemos é perder a nossa essência, aquilo que nos torna quem realmente somos, independente das pancadas que a vida nos der. Não devemos deixar que uma desilusão nos tire a alegria de amar para sempre, nem que uma decepção nos torne frios e calculistas.
Não podemos deixar que as opiniões e os comentários alheios nos definam, e nem mesmo que o nosso passado nos defina. Afinal, temos o direito de mudar sim! Desde que seja para melhor. Se erramos no passado, temos todo o direito de nos arrependermos e vivermos corretamente e felizes agora. Se não sabíamos amar, podemos aprender, nunca desaprender ou desistir, por mais que saibamos o quanto dói (sim, amar, por vezes dói, mas qualquer crescimento dói e nem por isso não vale a pena).
Após toda esta reflexão, voltei a olhar-me no espelho e, quer saber? Gostei da mulher que vi! Olhando com outros outros, percebi uma mulher madura, onde cada ruga ao redor dos olhos representa as vezes que chorou por algo ou alguma perda. O sorriso tímido representa a cautela dos sorrisos antes soltos por qualquer motivo. A falta de planos representa alguém que decidiu entregar a vida nas mãos de Deus e deixar que Ele tome conta de tudo.
Karina Mendonça é jornalista e escreve desde os 17 anos, pois acredita que as palavras podem fazer coisas maravilhosas, desde mudar o mundo, até fazer alguém sorrir. Ou chorar.
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