Definitivamente 2020 não foi um ano fácil. Muito embora ainda estejamos a pouco mais de um mês de seu fim, podemos imaginar que, em linhas gerais, não há horizonte otimista pela frente.
Em todo o mundo, vimos a maior crise sanitária dos últimos 100 anos devastar o empilhamento de convenções que lutamos para manter de pé. O cenário político que a pandemia encontrou, também não era o mais favorável. Após o fenômeno de ascensão de líderes de extrema-direita em inúmeros países, (entre eles o Brasil), o andamento da consolidação dessas estruturas políticas nefastas valida diariamente discursos de ódio contra minorias, modos de viver e pensar a vida, além de implementar uma retórica beligerante contra artistas e trabalhadores da cultura, tendo como mote o argumento da existência de uma guerra cultural, na qual lutamos sem ter escolha. Essa mesma retórica implementou a política da “vista grossa” para grandes latifundiários, grileiros e fomentadores do agro pop brasileiro, sendo responsável pela destruição de grande parte de nossas florestas e ricos biomas que lutamos por décadas para preservar. Outro fenômeno que ganhou força foi a banalização da violência, que, além de caracterizar homens e mulheres negras como grupo de risco, em seu cotidiano, desde o seu nascimento, ganhou força na omissão de figuras públicas em ataques e mortes que acontecem à olhos vistos, os quais lutamos tanto para evitar que ocorressem. Essa mesma banalização garante que povos indígenas tenham suas terras invadidas e suas existências minimizadas em prol de uma ideia de progresso que fomenta arquétipos que o mundo moderno lutou tanto para superar. Como podemos perceber, cada trajetória encontra seus próprios motivos para lutar, mas nem toda luta vale a pena. Cada batalha que pretende impor a sobreposição de uma cultura por outra através da violência não faz sentido em si. Cada vitória de quem luta pra oprimir tradições culturais que não fazem parte do escopo de sua base ideológica é, na verdade, uma derrota para o aprofundamento de nossa humanidade. Quem luta contra, poucas vezes percebe aquilo que realmente está a favor.
E por aqui, seguimos lutando, certos de que toda luta a favor da diversidade da pluralidade de maneiras de exercer a vida, do conhecimento da arte e da cultura como ferramentas para mudança de olhares e transformação integral dos sujeitos, são lutas que sustentam o propósito de uma existência mais humanizada, digna e solidária.
A Equipe da Trama agradece cada autor que enviou a sua contribuição nesse ano de muitas lutas, pois graças a vocês, conquistamos muitas vitórias. Também somos gratos a cada leitor, para o qual dedicamos nosso esforço criativo. Estamos prontos para 2021.
Frederico Lopes é Artista, educador, encadernador e escritor. Trabalha no Memorial da República Presidente Itamar Franco, Museu de Arte Murilo Mendes e é fundador da Bodoque Artes e ofícios e da Revista Trama.
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