Ansiosos não são bons com o futuro

Não vou à praia aos domingos.
Aos sábados: dou poucos passos.
Vou quando só ficam os respingos,
Os que respeitam espaços.

Fez falta respirar
E continua fazendo.
Não é que falta o ar:
No saber que pode faltar
A gente vai adoecendo.

Eu tô aqui e sinto saudade
De gente que não posso abraçar 
E nem é por estar em outra cidade.
E se eu parar pra pensar:
Vai passando minha idade
E com ela a capacidade
Da calma até pra rimar.

Atropelo pensamentos,
Passo por cima e volto.
Os coitados são isentos:
Futuro não conta voto.
Se o “e se” não aconteceu,
Por que com ele me revolto?

Aniversário me deixa nervosa:
Queria que o tempo voltasse.
Pra mim, que sou ansiosa,
O futuro nem começou
E já queria que acabasse.

“Um ano perdido”.
Penso isso há anos.
Mais um ano concedido 
Pra eu continuar meus danos.

Daqui a pouco os vinte e cinco 
Que nem sei se vão chegar.
E eu aperto o cinto,
Com medo de capotar
Tanto nas coisas que sinto
Quanto na falta de ar.

Se o tempo pra mim corre,
Pros que amo ele voa.
E se um deles morre…
Culpo o tempo?
“Ele não perdoa”.

Não, culpo a mim
E meu peito que doa.
Tá chegando no fim?
Minha cabeça diz “sim!”
Meu coração diz:
“Tá sofrendo à toa.”

Geara Franco é jornalista, social media, macramística e poetisa nas horas vagas.


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