Começo este artigo falando sobre o fim. Para ser mais claro, o começo do fim da Crise dos 40. E você vai saber qual é esse fim, se ficar comigo nesse artigo até o último parágrafo. Oi, eu sou o Augusto Medeiros, pernambucano, jornalista, criador de conteúdo, gerente de projetos, ator, roteirista. E tenho 44 anos. Essa história é sobre mim, mas pode ser bem parecida com a sua. Por isso, faço o convite a uma reflexão.
Não sei se todos, mas ouso afirmar que boa parte dos seres humanos passa pelo complexo questionamento sobre os rumos da vida a partir dos 40 – principalmente aqueles de Mindset de Crescimento, como explica a psicóloga Carol Dweck, autora do livro Mindset – A nova psicologia do sucesso. Fazendo uma breve explicação, ela afirma que as pessoas que se encantam pela condição de estar sempre aprendendo, mantém-se em constante desenvolvimento; já as pessoas de Mindset Fixo, gastam muita energia provando aos outros e a si mesmo o seu perfil intelectual estático. No meu caso, confesso que me identifiquei, em alguns momentos, com o fixo e, mais recentemente, com o de crescimento.
Os sinais mais evidentes da crise dos 40 surgiram após uma extraordinária experiência de intercâmbio cultural na Europa, por um período de três meses, divididos entre Londres e Berlim. Ao voltar para o Brasil, começaram as crises de ansiedade. Digo que era o sufocamento causado pela necessidade de mudança. O corpo não só fala, como também pode gritar, caso você ignore um diálogo pacífico com os sintomas. Depois da gritaria, iniciei um lindo processo de mudança de vida. Hoje, falo com orgulho sobre tudo o que passei e, espero poder ajudar outras pessoas que passam por esse momento tão delicado, de decisões importantes sobre o futuro.
Vivi intensos 17 anos de carreira como repórter de Televisão. Uma paixão de causar incêndio. Vocação e determinação para contar histórias, a qualquer momento, sem pausa.
E foi esse o meu questionamento aos 40. Será que aquele era o ritmo adequado para os meus dias? O exagero levou ao esgotamento. A decisão foi mudar de rumo. Pedir demissão, mudar de país, mudar de vida. Sei que muitos não conseguem. É um movimento que requer coragem e planejamento, inclusive financeiro. Foi aí que o Mindset de Crescimento ganhou força. Busquei novos conhecimentos. Achei tempo onde não parecia existir e concluí um MBA em Gerenciamento de Projetos pela FGV. Era exatamente a fraqueza que eu precisava fortalecer para planejar e executar a mudança.
Aqui vai uma dica de quem já passou por tudo isso e sente que, agora, está fechando o ciclo da crise: Respeite seus limites. Escute suas emoções e seu corpo. Foi o que fiz, mesmo que um pouco tarde. Era preciso parar tudo. Mudei para a Alemanha e passei um ano estudando o idioma alemão, sem compromissos profissionais. Você já pode questionar nesse momento sobre o luxo de ficar sem trabalhar, mas não se esqueça que falei sobre planejamento financeiro mais atrás. E também, tem relação com prioridade. Algumas pessoas podem gastar em bens de consumo; eu decidi investir em conhecimento e na minha qualidade de vida.
Do momento em que cheguei à Alemanha, começou um período de desconstrução. É parte do processo. Ainda cheguei a fazer minha primeira reportagem internacional, que foi ao ar no Fantástico, sobre um brasileiro desaparecido em Hamburgo. Eu ainda não havia parado totalmente, e o corpo gritou mais uma vez. Foi então que resolvi ser mais radical e suspender o início da carreira como correspondente internacional. Só aí, o silêncio que eu precisava, finalmente, começou a me acalmar.
Durante cerca de seis meses, eu não sabia o que faria, profissionalmente. De fato, era a etapa da desconstrução, da busca pelo autoconhecimento e pelo propósito. Por fim, comecei a namorar mais uma vez com a comunicação, que é a minha verdadeira vocação. Criei dois projetos. O primeiro deles, o Mudar é Possível, um canal no YouTube para compartilhar minhas experiências de mudança de vida. Depois, vieram novos quadros, como as entrevistas com especialistas; as histórias contadas por outras pessoas, também sobre mudança de vida; e o compartilhamento das minhas mudanças na prática.
O segundo passo, que já foi uma reaproximação maior com o jornalismo, foi a criação do canal Mais Berlim, sobre viagem e cultura em Berlim. Também criei uma revista online, parte do projeto Mais Berlim. Ambos os projetos foram a base para a reconstrução da carreira, com um novo significado.
Consigo me enxergar, hoje, como um jornalista atualizado, com o YouTube, com as Redes Sociais, com as ferramentas de Marketing Digital. Por isso, falo com orgulho sobre a mudança de vida. Aprendi muito na reconstrução. Agora sei mais sobre a linguagem da internet e sobre o tipo de conteúdo que as pessoas buscam. Aprendi a editar vídeos, a construir um site, a fazer anúncios no Google e no Instagram e a produzir criativos para redes sociais. Descobri que existiam novas profissões na comunicação, como copywriting e gerente de comunidades. Ou seja, atualizei-me, sem perder o amor pela comunicação.
Mas e agora, qual é o início do fim desse ciclo, que eu prometi contar? Depois de tudo o que passei, tenho mais clareza de que exagerei na medida do meu envolvimento com a profissão. Claro que notícia não tem hora para acontecer e que devemos nos dedicar para nos desenvolvermos, mas vou citar mais uma vez o livro da PhD Carol Dweck. Quando focamos nossa carreira no sucesso, na fama, no rótulo de “o melhor”, nos elogios, corremos o risco de nos aprisionarmos a uma mentalidade fixa.
Hoje, estou sim, voltando à ativa como repórter. Porém, não quero focar no sucesso; quero focar no meu desenvolvimento contínuo, com a sensação leve de estar aprendendo todos os dias. O sucesso pode ser uma consequência.
Augusto Medeiros é jornalista que adora criação. Fazedor de multitarefas. Repórter de TV, apresentador, criador de conteúdo digital, youtuber, roteirista, ator e gerente de projetos.