“Menino não chora.”; “Seja forte.”; “Você é um homem ou é um rato?”; “Isso é coisa de mulherzinha!”; “Prendam suas cabritas, porque meu bode está solto”.
É bem provável que todo brasileiro já tenha ouvido pelo menos uma ou duas dessas frases. Também é bastante provável que boa parte de nós, homens e mulheres, já tenha repetido alguma delas, achando que estava ajudando na educação de alguém ou, pior, que era apenas uma brincadeirinha inofensiva.
Infelizmente, não é bem assim. Para deixar isso claro logo de cara, vou usar um dado estatístico muito triste: no mundo todo, o número de homens que tira a própria vida é, em média, três vezes maior do que o de mulheres. Os dados são da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) e do Conselho Federal de Medicina (CFM).
Pois é. Muitos de nós, homens cisgênero, fomos levados a acreditar que precisávamos necessariamente ser, o tempo todo, insensíveis, fortes, corajosos, viris; que era importante não deixar ninguém confundir nosso comportamento com o de uma “mulherzinha” (termo horroroso, diga-se de passagem). Muitos de nós acreditamos de verdade nisso tudo e, por acreditar nessas bobagens, ficamos envergonhados em diversas situações: quando uma tristeza bateu, ou uma força maior se impôs, ou o medo chegou, ou aquela brochada evidente e inesperada aconteceu. Ficamos envergonhados e, como “timidez é coisa de menininha, porque menino não se esconde”, escondemos também nossa vergonha, cumprindo o famoso “engole o choro”.
Acontece que, um dia, essa conta chega – e, com frequência, nos pega desprevenidos (ou, continuando com a lista de expressões populares sexistas, nos pega “com as calças na mão”). E estamos desprevenidos porque fomos enganados a vida inteira. Não nos ensinaram o óbvio incontestável: dor, fragilidade, medo e impotência fazem parte da natureza humana. Esses são atributos de todos os seres humanos, não só das mulheres. É tolice pensar nessas sensações e sentimentos como se estivessem diretamente ligados ao nosso sexo biológico. Homens que ainda não se deram conta disso acabam, muitas vezes, se tornando ainda mais vulneráveis ao adoecimento emocional que pode levar ao estresse, à ansiedade, à pressão alta, à depressão, ao AVC, ao infarto… à morte, enfim.
A crença equivocada em que existam “coisas de homem” e “coisas de mulher” é “tóxica”, ou seja, envenena, faz mal. Por isso chamamos de “masculinidade tóxica” esse conjunto de ideias tortas, a camisa de força que amarra tantos de nós – sobretudo os homens, claro, mas as mulheres também – numa lógica que, por ser maluca, acaba nos enlouquecendo e, muitas vezes, nos matando. Os números estão aí para provar isso.
Não falo só das estatísticas de suicídio entre homens, mas também das taxas de violência contra as mulheres, por exemplo. A masculinidade tóxica faz mal aos homens até na hora de fazer seguro de automóveis, que são mais caros para nós, porque, como somos “destemidos e arrojados”, nos envolvemos mais frequentemente em acidentes de trânsito. Em suma: masculinidade tóxica é, sob todos os aspectos, só prejuízo.
“E aí? Vai ficar aí parado? Homem que é homem corre atrás do prejuízo”.
Luciano Nascimento é mangueirense, filho, marido, pai, professor, flamenguista, psicopedagogo… mais ou menos nessa ordem. É, também, idealizador do projeto Dê Efiência.