Juiz de Fora é uma cidade com um forte movimento artístico e cultural. De 2014, quando me mudei pra cá, até 2020, eu pude me infiltrar nesse caldeirão e conhecer artistas e agentes culturais de diversas áreas diferentes. Quando se instaurou a pandemia – que trouxe consigo o isolamento social e, inevitavelmente, o cancelamento de todos eventos e espetáculos -, passei a me perguntar o que seria dos artistas dessa cidade.
Quando surgiu o Edital Na Nuvem, da Funalfa, em Outubro de 2020, percebi que essa inquietação era um tema perfeito para um documentário: afinal, qual o lugar da arte durante a pandemia? Como estão se virando as/os artistas, depois de muitos meses sem o principal ganha pão? Assim surgiu “A Pausa do Aplauso”. Embora o valor pago por cada projeto contemplado fosse muito baixo e o tempo para realização do mesmo, muito curto, a minha sanha de concretizar essa ideia era muito grande. Me diagnosticaram com “megalomania do primeiro edital”. Preferi acreditar que o que me motivava era o desafio que eu mesmo havia me imposto. Seria o meu primeiro filme documentário, feito praticamente sozinho, com os equipamentos que eu tinha em casa e nenhum dinheiro para produção. E assim foi.
De acordo com o projeto que escrevi, selecionei cinco artistas, de diferentes segmentos, onde três seriam mulheres, três pessoas seriam negras, e todas seriam artistas contempladas no mesmo edital que eu, o Na Nuvem. Selecionei cinco entre 105. A rapidez do processo de seleção e do agendamento das entrevistas foi fundamental para que os curtos prazos fossem cumpridos. Nesse processo, tive ajuda de uma amiga, Mariah.
Os segmentos do teatro, graffiti, dança, artes visuais e música foram representados, respectivamente, por Caroline Gerhein, Hanyel Augusto (e Igor Tenxu), Letícia Nabuco, Paula Duarte e Caetano Brasil. Cada um com sua perspectiva, sua realidade, todos eles puderam abranger de forma satisfatória a imagem completa que eu buscava. Em conteúdo, todas entrevistas foram muito ricas. Foram excelentes falas e abordagens sobre os temas levantados. Encontrei personagens sólidas, que tinham propriedade falar em nome de seu segmento. Todo sucesso que possa haver nesse filme, devo à generosidade dessas pessoas, por me receberem e conversarem abertamente sobre suas vidas em um momento tão delicado.
É claro: um primeiro filme, feito às pressas, sozinho e sem recurso, teve muitas falhas. Falhas de captação – hora no áudio, hora na imagem, hora na direção das entrevistas; imprevistos com locações; chuvas torrenciais. Mas documentário é assim mesmo. O processo todo – da primeira seleção das possíveis personagens, até a entrega do primeiro corte da montagem – foi feito no intervalo de um mês. Ainda assim, “A Pausa do Aplauso” foi um registro necessário, que tocou em pontos importantes e pouco observados no momento, além de apresentar um pouco do trabalho de cinco excelentes artistas de Juiz de Fora. Um filme não só destinado à classe artística, mas também a todas as pessoas que consomem e valorizam a arte em suas vidas.
Em 2021, o filme foi premiado por um Edital da Lei Aldir Blanc Estadual, na categoria de Médias Metragens já realizados. Até que, no fim, valeu a pena o esforço.
“A arte existe para que a realidade não nos destrua” – Nietzsche
Dougg Ribeiro é, sendo genérico, artista e comunicador. Com um pé em cada lado, se atreve a pisar em todo canto. Usa palavras, sons e imagens para tentar impactar o mundo ao seu redor.