A ausência materna na infância, as paixões conturbadas, amores despedaçados e carência passando pela triste realidade contemporânea na personificação de um cenário cada vez mais comum abrangendo feminicídio e materialismo. É neste contexto de revolta com a sociedade, com a falta de compaixão, as exorbitâncias de interesses materiais que nos atormentam, a dor da perda, enfim; uma série de sentimentos distintos que me incitam inspiração para esta série.
Utilizei papel Paraná em vez de tela convencional e me apropriando de uma técnica que começou com óleo passando por acrílico e foi se tornando mista aos poucos, com uso de giz pastel, tinta óleo, acrílica, carvão vegetal, gesso e massa acrílica.
Falar do processo de criação de meus trabalhos é basicamente delinear o momento de maior relevância, instante em que busco evidenciar sentimentos diversos. Depois de criar o desenho, deixo-me seduzir por letras e canções que de alguma forma aludem ao que estou tentando, demonstrar. Variegando sentimentos às letras, que na maioria das vezes são tristes, mas de alguma forma harmonizam entre si; as cores e expressões, revelando através do movimento uma série de sensações ocultas.
Alguns de meus trabalhos são marcados por instantes de alienação, em que não me importa saber o que acontece ao meu redor, eu apenas estou mergulhado num sorvedouro de sentimentos e deles quero extrair o melhor e o pior de mim, tudo o que se mantém oculto aos olhos de outrem. Estar inspirado é trazer à tona uma infinidade de sensações que através das cores se tornam visíveis, onde eu procuro revelar o obscuro, com a intenção de não ser encontrado, tampouco desvendado. O verdadeiro sentido está intrinsicamente representado em figuras efêmeras com rostos melancólicos e movimentos singulares que conseguem exteriorizar uma linguagem distinta e profunda. Penso que através do meu estilo indefinido; que se pode chamar de expressionismo contemporâneo, sou capaz de transmitir aquilo que não sei falar, tampouco explicar. Acredito que minha intenção é provocar a mente humana através de cores, expressões e movimento, fazer me reconhecer pelo ato de externar aquilo que muito se faz questionar, mas que poucos conseguem interpretar, a alma.
Carlos Alexandre Machado é artista plástico, criado na cidade de Santa Cruz do Sul (RS) e residente em São Paulo.