O FIM DA HISTÓRIA

Como lidar com algo que acaba de repente de forma inesperada?

Por mais que soubesse o fim daquela história, eu não estava preparado para aquela ruptura.

Havia conhecido Anne em fins de dezembro passado. Jovem, na sua adolescência, me apresentou seus sonhos e planos. Fui fisgado pela forma apaixonada como falava de seus planos. Talvez essa seja uma das maiores qualidades do ser jovem, falar com paixão…

Anne abriu seu coração, também. De uma forma como ainda não tinha experimentado, me permitiu entrar em detalhes, segredos de sua vida, dividiu suas angústias e lutas. Confidenciou seus conflitos, que não eram poucos; me fez pensar minha relação de filho com meus pais; assim como me fez pensar minha relação de pai com minhas filhas.

Anne despertou minha admiração, me conquistou por sua leitura madura de mundo e por uma erudição fora do comum. As vezes me esquecia que era uma adolescente. Em sua fragilidade, demonstrou uma vitalidade acima do normal, desejo intenso de viver e um talento único para escrita. Sua escrita fascinava.

O mais surpreendente, porém, foi perceber pelos seus olhos que ainda somos reféns de nossos preconceitos e, pior, que ainda somos os causadores dos nossos males e promotores de todo tipo de descaso. Por outro lado, me mostrou como ainda podemos acolher, ajudar, proteger e resistir. Em meio ao caos, me fez acreditar que amor surge nos contextos mais improváveis. E cá entre nós, amor adolescente é singular.

Quando tudo parecia bem, caminhar para um final feliz, ela parou de falar. Era 04/08/1944. Alguém os entregou.

Tudo havia acabado. Seu pior pesadelo não deu conta da realidade de um campo de concentração. Com 14/15 anos, Anne sucumbiu de forma trágica. Tudo havia acabado: amor, brigas, sonhos…. Esperança.

Anne, assim, me deu duas últimas lições: 1) às vezes, o mais importante é como vivemos o hoje; 2) nem todos os finais são felizes.

Como você tem escrito sua história?


Iverson Silva é professor de História da Rede Pública, Historiador e Escritor.




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