meu international style está mais para interplanetário, JÚPITER de criança era tudo um grande pátio, corredor de atravessar em ziguezagues piques, bandeiras, corre cutia, labirinto, floresta tão densa nuvem sempre há algo a se descobrir que não se buscava fanfarras dissolvendo focos de um risco nunca há fim no descobrir das coisas que não se pensava missões para JUNO houve, um dia, seu núcleo original? há ainda um coração? um caroço? ou foi roído, ruindo por correntes de massa quente, extra fervente, já candentes no processo tenro de sua formação...? e nunca teve começo? caroço? uma semente dilatando ao broto...? hipótese conclusiva indefinida: é só um amontoado de coisas foram se prendendo, emaranhando, fundindo e desconformando, durante colisões randômicas das margens de um disco acelerando-se, complexo campo magnético. redemoinho de gravidades... passei todos anos da vida atravessando essa galeria seus recortes paralelos em fluidas diagonais por doze blocos, quase cem unidades habitáveis sua cor ora rosa, pêssego, margarida, terrosa ora trazendo nuvens de um doce para o assento brutal de um monstro gigante horizontal, com sua garganta sinuosa, angulosa, geométrica falha da simetria permanências e mudanças mistas corrimãos, extintores de incêndio e tubos hidráulicos orbitando sua superfície dura de estrutura arterial escondidos em seu interior aberto, um rasgo de gás de metal como dezenas de luas com ilhas, vulcões e tempestades série de eclipses numa estranha coreografia milenar superfície sem membrana, faz do toque um mergulho, JÚPITER, gigante deitado no umbigo da avenida reta/curva, parábola dum vale de rio coberto JÚPITER, uma enorme verruga – um tumor do sistema fabril com anel de poeira sutil da Manchester falida estrela fracassada? planeta bem sucedido! ‘redondeta’ de tantos conflitos superaquecidos, convertem-se em líquido “mas de fato não sabemos, porque é incrivelmente difícil entender a física e química dos materiais trancados naquelas condições de pressão e temperatura”
a paisagem rotinizada de estar quase à porta de casa de mainha, de voinha, ao mesmo tempo num foguete intergaláctico, firmo as chaves para imergir na massa gasosa de JÚPITER, tão ligeiro que nem se perceba minha intromissão de longe o corpo denso, estrela amadeirada. a passos, se torna esfera marmórea. sentindo seu cheiro até pousar na superfície hipoteticamente rochosa de seu núcleo inexistente... jornada por intimidades óbvias nenhuma sonda ousar(i)a
Tálisson Melo é Artista-pesquisador. Doutorando em Sociologia e Antropologia na UFRJ. Publicou o livro “Mesmo Sol Outro” com Carolina Cerqueira (2018). Atualmente trabalha em projetos curatoriais-editoriais e de pesquisa em Montevidéu, Juiz de Fora e Nova York – emaranhando artes visuais, poesia, design, arquitetura, cinema, história e ciências sociais. @talisson.melo @mesmosoloutro