CARAVAGGIO

“A todos vocês que dividiram a sua sombra comigo
E mostraram caminhos tão humanos...”

Nos meus olhos e no meu olhar 
Vivem a tristeza da inclemência 
Do tempo, da natureza, 
E a certeza de que o estranho riso
Que brota dos meus tantos eus,
É irmão desses espantos diante do gigantesco.
A todos que se aproximaram da minha sina
Abro espaço aos seus pés cansados,
Suas vestes rotas e seu imerecido martírio.
À sua volúpia, contida em estudados disfarces
E para a generosidade e sabedoria
Diante daquilo que se impõe
De forma definitiva.
Mas que poucos verão...
Eu lhes apresento ao mundo que não passa 
De uma colcha de memórias, 
Onde o jogo de luzes das trevas
E da beleza, refletem e acendem
Ainda outras, através das gerações.
O meu hálito, este que carrego
Em densas nuvens tempestuosas
Sopra entre abismos que não permitem descanso.
Os gritos, uivos de surpresa e dor, 
São os raios que antecedem a verdade
Que será contada continuamente
Por outros, que, assim como eu
(o Louco com o saco dos destinos humanos às costas)
Dirigem-se em sua direção,
Sem escolha...

Marina Alexiou é mestre em Filosofia pela PUC/SP e estudiosa das Artes. Escritora de prosas poéticas desde 2009, participou do livro “Coimbra em Palavras”,  lançado em Portugal em 2018. Gosta de colecionar belas imagens, pois elas a levam para o seu mundo simbólico inspirando a sua escrita.


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