por: Kariston França
Já parou pra pensar em cada produção de arte que temos acompanhado ou não nos últimos meses? Certo tempo atrás, li um texto sobre obras de arte com data de validade, era uma exposição para abordar o tema da finitude. Laura Vinci planejou uma exposição com 7 mil maçãs, e registrando tudo com uma 9mm, abordou essa sensível questão da fragilidade do tempo.
As milhares de maçãs expostas na sala, iriam se tornar um composto de ração assim que sua vitalidade se extinguisse.
Pablo Picasso certa vez, disse:
“Para mim, não há passado ou futuro na Arte. Se uma obra de Arte não pode viver sempre no presente, ela não pode ser considerada como Arte. A arte dos gregos, egípcios e os grandes pintores que viveram em outros tempos, não é uma Arte do passado. Talvez esteja inclusive muito mais viva hoje do que sempre esteve.”
Talvez a arte “perecível” tenha seu valor, e de fato seja eternizada por fotos e vídeos, afinal, essas são as facilidades do nosso tempo.
Não perdemos nada. Será?
É intrigante como aceitamos que nada vai passar, que o que produzimos, ficará para a posteridade. Temos castelos e pontes que nos provam que isso é possível.
As pirâmides são uma afronta a finitude da vida humana? Será que são um memorial a finitude que nos cerca e nos debilita a cada manhã?
Longe de mim questionar a validade da obra de arte e de sua duração, mas me intriga a maneira como olhamos para nossas produções e as deixamos ao vento, numa frágil certeza de que a mesma irá durar mais de uma ou duas vidas.
A dança milenar entre a vida e a morte sempre impulsionaram a humanidade a fazer mais.
A humanidade então, na busca pelo algo a mais, se torna refém de algumas organizações inerentes a vida.
Precisamos dos vencidos, dos medianos e dos heróis. Ambos apesar de terem espaço na memória global, encararam a finitude que os cercava.
Qual a nossa motivação na produção da arte?
Todos queremos ficar no lugar dos heróis, dos excepcionais, daqueles que realmente deixaram uma estátua esquecida e desgastada na praça.
A verdade é que precisamos desenvolver o nosso papel na arte da vida, ser o que precisamos e não o que queremos.
O tempo julgará qual o nosso lugar na história, precisamos apenas nos entregar a consciência de finitude que nos cerca, nos lançarmos aos continentes desconhecidos seja como desbravadores ou como um mero carregador de equipamentos de medição.
Lembre-se de Humboldt no texto passado, desbravou um continente desconhecido mesmo que “conquistado” séculos antes.
Humboldt só seguiu e superou, graças aos artistas ao seu redor, que desenvolveram estratégias, que superaram seus limites para preservar cada anotação e dado atmosférico coletado na sua aventura pela América do Sul.
Só nos resta aceitar, e experimentar o que a nossa finitude nos proporcionará a cada dia, a cada flash, pincelada, cada letra escrita e cada livro impresso.
Seremos com uma relva, que pela manhã se fortalece, embeleza a vastidão do mundo, e de tarde, já se encontra seca, mas em cada uma dessas etapas, ela supre uma demanda.
Criemos pois esses suprimentos em cada instante da nossa vida e teremos pirâmides construídas diariamente.