Eu tenho uma blusa preta soltinha, macia, de tecido bom, manga curta e decote bonito. É uma blusa daquelas básicas e que ficam bem com tudo. Eu amo tanto essa peça, que sempre que possível saio com ela. Depois eu lavo, seco e saio com ela de novo. E aí repete o ciclo. E é justamente por isso que esta blusinha básica perfeita – que não é nem tão larga e nem tão justa, macia e gostosinha – já está meio desengonçada.
Esses dias, pela manhã, eu descobri que a minha blusa preta está com um buraco no tecido. É um furinho minúsculo, singelo. Mas é um buraco e está bem na frente da peça. Num lugar facilmente perceptível. Por mais que eu tente esconde-lo, ele está lá: aparecendo. Parece um pequeno grão de areia. Mas é um furo. Parece uma migalha de pão. Mas me incomoda. E esse furo vai crescendo a cada lavagem. A cada dia. A cada rolê. Esse furo nunca vai desaparecer, ele só vai aumentar, crescer e evoluir até consumir toda a minha blusinha preta básica preferida. Aquela que me acompanhou em tantos momentos: dias felizes, dias tristes, dias importantes, dias normais, dias horríveis…
E apenas no dia que isto acontecer eu vou me dar conta de que eu não odeio o furo, eu odeio a finitude das coisas. Eu odeio o fato de precisar aprender com a vida de que nem tudo é pra sempre. Que tudo tem um fim. Eu odeio o fato de precisar aprender que o fim nos trazem coisas novas, melhores, lindas e diferentes. Eu odeio o fato de perceber que, conforme a minha trama de raciocínio evolui, eu amo o ciclo das coisas e a mutabilidade da vida. Eu amo saber que com todos os fins, vem novos começos. Que os ciclos terminam, porque outros começam. Que os términos nos ensinam, nos fazem crescer e evoluir.
E aí eu percebi que nessa história da blusinha preta, talvez, eu seja um buraco singelo e discreto que, a cada novo momento, dia ou lavagem, cresce e aparece. Talvez eu seja esse furinho esperando pra evoluir e consumir a blusinha preta que, na verdade, é a minha própria vida e o meu universo particular.
E se pensarmos bem: o universo parece um grande tecido preto, repleto de pequenos buracos brilhantes, que escondem sistemas incríveis e complexos.
Luisa Biondo é redatora, mas ama desenhar e fotografar. Atualmente trabalha em uma agência de marketing e nas horas vagas faz uns rabiscos que ficam guardados na gaveta.
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Eu sempre acabo te elogiando no privado, pq? Não sei. Porque sou assim. Só que quero enaltecer essa minha amiga incrível que me fez largar o velho para aceitar o novo. Deixar esse medo de lado e perceber que querendo ou não, as coisas acontecem por um motivo! Cada dia que passa, tenho mais certeza disso. Enfim, pode ser difícil para vc, mas percebo que está no caminho certo. Você é foda. Nunca duvide disso. Muito maior do que pensa. Amo você. E muito obrigada por nossa amizade!