I
O artista sertanejo – acima de tudo – é um autônomo
E assim como Euclides, também é um forte
Sua bússola nem sempre aponta para o norte
No vulgar, é ser “incômodo”
Pondo a boca à lenta sorte
Pra narrar que tem vento a soprar
II
O artista – acima de tudo – não é só cigarra
Também é formiga que trabalha
Pois o inverno é todo dia
Pra abraçar a cantoria
Enquanto a vida passa
À mercê de tudo
À troco e deriva de nada
III
O sertanejo artista – acima de tudo – é malabarista
Murro em ponta de faca cega
Do vagaroso à larga pressa
Que na surra, tira leite da ametista
Do surreal ao realista
Independente da maioria
Que cerra os olhos
E na mensagem, não acredita
IV
O artista – acima de tudo – não tem braço frouxo
Costura e também faz bolso
Onde faz muito, do imenso pouco
Para mostrar o seu tesouro
Que não é cobre, nem ouro
E sim, a arte de reinventar
V
O artista – acima de tudo – é solitário
Tem relíquias e projetos engavetados
Abraçando poeiras, terminando desbotados
Legíveis para o coração enferrujado
Criador de telas, lamentos e talhados
Um acervo particular e sortido
Que seria mais bonito se fosse avistado
VI
O artista – acima de tudo – tem saudade
Pois se perdeu naquela parte
Em que enterrou o sonho, pela realidade
Que até chamou seu dom de “vaidade”
Para o pão poder ganhar
Porém, nas rodas reunidas
Desperta sua alegria
Que amanhã vai se calar
Mas que encantou naquele dia
VII
O artista – acima de tudo – tem integridade nata
E mesmo em chão de terra ingrata
Onde cultura é tapete, embora seja a casa
Ainda é solene e faz o cortejo
Pois fica muito feio
Mostrar só a fachada
(“É uma casa, muito engraçada
Pois tem de tudo e não mostram nada… ♪♫♬”)
VIII
O artista – acima de tudo – não é sozinho
Mesmo autônomo, pode colaborar
Há situações que vão reduzindo
Porém, nem sempre é dividindo
Que se pode conquistar
Onde é que tem sentido
Ter um céu vazio e limpo
Com uma estrela só pra brilhar?
IX
O artista – acima de tudo – sabe voltar Depois que o mundo o abraça
Lembra de quando estava na praça
Do aplauso ao vaiar
Recorda que onde pedra se atira
Foi onde começou a corrida
Hoje não é peça vendida
É pedra que fez uma saída
Que um dia volta para suas irmãs
Poço de ricas e profanadas jazidas.
Matheus Almeida Cordeiro, é artista visual, poeta, letrista, publicitário e ilustrador nascido em Ribeirópolis e criado no município de Poço Redondo (ambos territórios sergipanos). Suas artes e escritos percorrem desde os sentimentos universais, ao cultural nordestino/sertanejo, trabalhando com a hibridez “visual+poesia”. Na carreira, é autor de exposições digitais/presenciais locais e fora do estado, sendo elas: “Arranjos Cansados: Dentro e Fora, o Selvagem” (SE/2021), “Poço Redondo: Em Brenhas” (SE/2021), “Tropicálio-Místico” (PA/2022) e “Rota do Cangaço: Poço Redondo” (SE/2022). Integra também publicações externas como as antologias nacionais “Amor em Poesias 2” e “Poemas Marítimos II”, além de ser um dos contemplados do “Prêmio Sergipe 2022: Filhos do Interior”.
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