Acalmanocaos

por: Kariston França

Eu não sou pintor, talvez o tenha sido quando, na terceira série, tive de pintar um mosaico em tons de azul… ou quando pintei um prato em branco com um desenho pré fabricado.

Fora isso eu talvez tenha pintado o sete.

Me lembro de fazer o mosaico, e com muito custo, e muitos “reparos”, eu reorganizei o meu mosaico, com tons bem diferentes dos que desejava na escola.

Minhas linhas retas ganharam curvas de culpa e fracasso em tons mais fortes de azul.

Não que me compare a nenhum grande referencial do cubismo ou surrealismo, mas, de certa forma, em cada processo de criação temos o desgaste, a respiração fora do compasso natural, a exaustão do olhar, dos músculos…

Retas passam a se curvar ante a finitude de seus criadores.

Medo, receio, vergonha e um acesso de ira nos consomem e nos exaurem ainda mais.

Até que nada sobra.

Nos tornamos o medonho e desesperador vazio ou nos tornamos a plena calma desse mesmo vazio que nos apavora?

Gosto de pensar na arte de um dia criar minhas crianças, com um joelho melhor que o meu, um pulso menos torto, ou talvez, com curvas e contornos tão peculiares que alguns parecerão criações de alguma queda.

A imperfeição da criação é reflexo da intensidade de sentimentos que a obra carrega oriunda de seu criador, seja ele uma criança da terceira série do fundamental de Leopoldina (Minas Gerais), ou Guernica.

Guernica, PabloPicasso

Prédios, esculturas, pontes, obras infindáveis no mundo possuem suas imperfeições e tem mostrado a perfeição da arte quando as mesmas encontram sua finitude, se encontram no vazio sereno e caótico e se tornam eternas por se ausentarem de si e se tornarem propriedades de cada geração e observador.

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