Florisbela

Florisbela, amava flores. Um tanto óbvio? Tanto quanto dizer que Pedro amava pedras! Mas o impensável tem, além de sua complexidade, sua identidade .E eram especificamente rosas. Não sei precisar qual o ponto de partida da tal obsessão, se coisa de criança, saudade da avó e do seu jardim florido, ou algum devaneio provocado por seus hábitos de leitura e por sua solidão … Sabe, tem a tal Lispector, a escritora famosa – Mas a paixão barata, a fome.. Não sei até que ponto isso tudo mexeu com ela! Descobri, meio sem querer, que ela era dada a essas leituras. Bom, o que sei é que de um gostar agudo, oriundo de algo que sufocava o seu peito, criou-se um buraco; e lá nasceu o hábito de, além das suas, também ansiar por rosas alheias.

Digo incomum, não porque não é comum roubar em nossa sociedade – E no ato em si a classe social em nada influência, apenas nas penas – Mas pela especificidade do delito. Não pão, não tênis, não bolsa, não relógio, não carteira, não moto, não carro, não banco e sim rosas.

Se andasse em uma rua cheia de lojas chiques nada lhe instigaria esta vontade, porém, se andasse em um bairro cheio de jardins, seu olhar seria minucioso, veria de longe o alvo de sua cobiça. E não mediria esforços para obter a recompensa. Não se sabe se um vazio existencial, se a solidão, ou se era coisa de outras vidas, o tal gosto pela flor que não fosse sua ,a questão,que lhe digo, é: que nem toda rosa poderia lhe pertencer. Talvez outros olhares não a endossavam e toda rosa avistada precisava lhe pertencer, e suas horas ociosas eram direcionadas aos seus atos ilícitos, ou seus momentos especiais. Só que não era mais uma garotinha, e já havia um tempo que praticava.

Quando a conheci já era perita, e que depois de tomar o gostinho, fica bem difícil corrigir. O pior de tudo é que sua fixação a impedia de ver outras flores, outros jardins, outras possibilidades de tomar nos braços, por um instante, a tal felicidade; afinal, não podemos nos dizer indiferentes a esta busca, é o que todos queremos, é o que buscamos até o último suspiro. Pertencimento, não? Ela não havia casado, acho que nem enxergou os pretendentes que poderiam ter tentado aproximação. Mas quando me mudei, professora aposentada, boa observadora, tomei para mim que precisava ajudar aquela, mulher “que ainda dava um caldo” e que me parecia tão necessitada de amparo – Isto, eu sentia! – Minha amiga sempre me questionou: “Como chegaste a este veredicto, és agora dona da verdade?!” “Experiência, minha filha!” Eu dizia, com uma piscadela, cheia de razão: – A Florisbela precisa de ajuda.  Enquanto ela seguia viva a vida.  

Com o tempo, incluindo aquele de frente ao espelho, pude deduzir que ela não se achava uma rosa, nem sei se uma flor das mais singelas, talvez uma das gramínea de beira de estrada. O problema eram as raízes, do outrora, do agora, do depois. Minhas interpelações eram sempre atendidas, com um distanciamento muito gentil.Ela me escorria pelos dedos! Sempre algo a tratar, segurando nervosamente sua bolsa sob o braço esquerdo – não me permitia adentrar no seu mundo,nos anos construindo muros, protegendo ilusões, tão suas.  

Então precisei mudar de cidade, um pouco contrariada, confesso! E sempre lembro da Florisbela. Hoje, reflito frente ao espelho, talvez culpa dos cabelos brancos, mas agora entendo o que minha amiga, que já se foi, queria dizer com “dona da verdade” – Só quem tem este poder julga a vida que não é de sua vivência. Então vejo, percebo que capturar a rosa para Florisbela era manter uma chama acesa, não deixar apagar sua necessidade de pertencer, de sonhar; e das últimas vezes que a notei aflita em suas tarefas delituosas, percebi que nem lhe importava mais a cor ou formosura da flor forçada a cativar-se. Concluo então que tirar a rosa do chão fazia-a sua, e tê-la em suas mãos a transformava em raízes. Observar a rosa, mesmo que já sem cor sobre a mesa – Era bem mais suportável que ver um olhar questionador em seu espelho, buscando raízes, respostas, que ela não queria dar, e opções de caminhos, que ela já se via sem forças para seguir… 

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Monica Vaz Lima é mestre em meteorologia, mas resolveu mudar de profissão depois dos 40 e atualmente, faz Faculdade de Letras Licenciatura Português/ Literatura. É uma ariana apaixonada pela escrita criativa. 

Instagram: @monica_vaz_lima 


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