A casa no meio do campo 

Venho me dedicado a este ofício há alguns anos: relatar o que escuto. Tenho minhas crônicas pessoais, porém não satisfeito com a narrativa de minhas próprias experiências, agora registro histórias de desconhecidos por terceiros, contos que se inventam por onde vou. 

Hoje irei contar sobre uma casa que encontrei por acaso em uma de minhas aventuras pelo campo. Poucas pessoas ao redor sabiam algo sobre o lugar, mas elas tinham informações suficientes para me deixar curioso e impressionado de maneira que achei relevante considerar escrever sobre o interessante passado que a construiu. Não me atrevi a entrar, pois estaria invadindo a privacidade dos espíritos. Localizava-se no centro mais calmo por entre as árvores por um motivo,porém de longe não parecia muito grande. Simples, porém com um ar aconchegante e acolhedor. A parede externa verde escura se disfarçava no ambiente, rodeada por diferentes cultivos vívidos, como se ainda estivessem sendo cuidados pelo antigo proprietário. Um homem sensato, pelo que ouvi. 

Mas não foi sempre assim. O protagonista desse conto carregava um passado sombrio. Alguns dizem que fazia parte da venda de órgãos humanos, outros, que chefiava tráfico de mulheres. Alguns estavam certos de que sequestrava crianças e as escravizava. A única certeza é de que foi um homem que agia frívolo e desumanamente. Não se sabe os motivos ou o que veio antes de sua maldade. De qualquer forma, era só mais uma pessoa dentre todas as muitas insensíveis e descartáveis. 

Com o tempo, o homem que fora o que se pode chamar de desgraça em pessoa caiu em si, digo, na própria desgraça. Isolado, sem mais desejos ou intenções.Via-se como nada além de um homem desafortunado, insuficiente para usar suas mãos para fazer o bem e compensar o desequilíbrio que causara no mundo. Lembrar-se de todas as atrocidades que foi capaz o deixava atormentado, definhando sem dormir por dias. O remorso o corroía cada segundo, cada vez mais fundo, incapaz de sequer pensar em outra coisa que não fosse a própria infelicidade, amaldiçoado pelo arrependimento. 

Desejando nunca ter criado noção da gravidade de seus atos, nunca ter se visto como realmente era. Parecia bem maior quando diminuía seres humanos a vermes ao invés de se sentir como um. Acreditou que sua punição era saber exatamente como era incorrigível, como Deus ou o universo ou qualquer carma o via. Não chegava a se comparar com o arquétipo de demônio,seria nada mais do que um homem, miserável, criatura podre e desprezível. Inútil. Acima de tudo. Sua vida não fazia a menor diferença, mas a morte parecia nunca chegar. Merecia viver, merecia remoer cada segundo, e não poderia morrer até sentir toda a dor. 

Em um dia fatídico, porém, o seu martirizar tornou-se passivo,só que sua mudança não veio pelo acaso, algo magnífico ocorreu; conta-se que um ser brilhante e de cor incerta, energia que ultrapassava a compreensão humana e uma presença jamais sentida de tão intensa, um anjo, um mago ou um gênio apareceu para ele, o mais físico possível, tão real quanto o homem era ou ainda mais. A criatura fez-lhe uma proposta: realizaria qualquer desejo que sua alma abatida pudesse ter. O que quisesse sem julgamentos; poderia torna-lo muito rico, poderia dar a ele o amor  perfeito, poderia corrigir qualquer ponto de sua vida, até mesmo fazer com que voltasse no tempo e se dedicasse a fazer o bem. Tornaria-se monge, doando o que tivesse aos pobres e buscaria pela plena paz de espírito. Seria feliz, mas o que iria garantir que não mudasse de conduta? O que aconteceu, aconteceu. Poderia ser diferente, mas não foi. Eu não estava lá quando o homem decidiu seu pedido, mas o que ouvi me pareceu algo como: 

-Desejo um lugar para ser triste. Peço -te que se for verídico o teu poder, peço uma casa pacífica em um lugar isolado, longe das pessoas para que minha existência não as perturbe. Eu não peço para ser feliz pois não sou humano o suficiente para me dar ao luxo de buscar o que todos querem. Então, eu suplico, se tenho eu algum direito. Dê me um lugar onde eu possa ser triste. 

Então o gênio não impressionado, sem refutar, o levou para uma casa pequena, rodeada de árvores. Desde aquele dia, o homem passou o resto de sua vida no silêncio vazio e pacífico. 


SS.Maisa é uma escritora e artista visual paulista que está no início de sua carreira na área da escrit, sendo já muito imersa no campo artístico pelas obras surrealistas. Mesmo jovem, escolheu dedicar sua vida acadêmica a se aperfeiçoar nas áreas criativas, principalmente moda, arte e escrita.  

_ss.maisa


Clique na imagem para mais informações!

Esse espaço maroto de apoio e fomento à cultura pode mostrar também a sua marca!

Agora você pode divulgar seus produtos, marca e eventos na Trama em todas as publicações!

No plano de parceira Tramando, você escolhe entre 01 e 04 edições para ficar em destaque na nossa plataforma, ou seja, todas as publicações contidas nas edições selecionadas vão trazer a sua marca em destaque nesse espaço aqui, logo após cada texto e exposição . Os valores variam de R$40,00 a R$100,00.

Para comprar o seu espaço aqui na Trama é só entrar em contato através do whatsapp: (32) 98452-3839, ou via direct na nossa página do Instagram.

Clique na imagem para mais informações!
Clique na imagem para mais informações.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *