A criatura estava com duas amigas numa noite quente, noite de farra. No conjunto de bares do lado da universidade em que estudam, lota geralmente de gente bebendo, dançando e se drogando. Era mesmo algo bonito, brotava alunas de todos os centros e cursos, coisa impossível nos muros da Federal.
Mas naquele dia não deu tanta gente e pior, a polícia começou a rondar, não teve outra e decidiram ir pro apartamento de uma delas. Já tinham deixado as coisas lá, descendo de novo pra arranjar cachaça. A rua do prédio completamente residencial, postes de luzes amareladas, daquele jeito que as formas e as sombras se misturam e tudo parece da mesma cor e material.
Ao dobrar a esquina, um homem se contorcendo no chão, três policiais em volta batendo, chutando, cuspindo, mijando. De farda completa e cassetetes brilhando. Ao ver algo assim numa rua deserta, qualquer cidadã sensata viraria o olhar e cuidaria da própria vida. Mas o monstro é jovem, corajoso e com álcool no sangue. Ficou olhando por segundos que pareceram horas até que perguntou o que estava acontecendo.
“Acabando com esse vagabundo, não tá vendo?” Seria a resposta óbvia pra uma pergunta idiota. Ela nem notou quando se aproximou deles, muito menos quando soltou a língua. Ela muito menos notou, quando as respostas foram virando farpas e ameaças veladas. Não deviam qualquer satisfação para um monstro, nem dariam. Ao notar isso, chutou o pau da barraca e estirou o magro dedo do meio.
Primeiro veio o soco bem no meio da barriga, todo o ar de seus pulmões escaparam como no meio de um mergulho de horas. O impacto seguinte foi nas costelas, trevas se arrastando da escuridão para seu campo de visão, dourado e preto. Não conseguiu ver nem distinguir mais nada, mas sentiu tudo.
Outro veio segurar seus braços, aproveitando a chance para dar uma boa torcida. Enquanto um segundo passou a dar porretadas no seu rosto, não ia lembrar de quanto tempo seus dentes aguentaram, mas logo seus molares viraram uma salada crocante dentro da boca, numa sopa de sangue da língua esfarrapada.
Quando a atividade deixou de ser interessante, jogaram o corpo de qualquer jeito no chão e xingaram de viado uma última vez. As amigas puderam se aproximar e arrastar o peso de volta pro apartamento, cuidando das feridas e juntando os pedaços como fosse possível. Sabia que o outro monstro que tinha ficado não teria a mesma sorte.
Trexy Menezes
é graduada em Bacharelado de Artes Visuais pela UFPB. Mestranda em Artes pelo PPGARTES-UFC. Faz parte do coletivo cultural Fuzz, atuando na produção geral. Trabalha com produção cultural e conservação de acervos artísticos. Enquanto artista, explora sobretudo questões relacionadas à corporeidade e identidade, usando como instrumento o incômodo, para gerar fissuras e quebras capazes de acessar questões continuamente encobertas pela normatividade. Trabalhando com manipulação virtual, fotografia, performance, fotoperformance, desenho, poesia, literatura, arte digital, impressão e escultura.
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