“O Brasil se tornou a nossa fonte de esperança.”
No Brasil há cerca de dois anos, o afegão Fatehullah Azizi jamais havia imaginado que faria do país tropical seu lar. Foi em 2021, quando, ao lado de seu irmão, deixou o Afeganistão rumo ao Paquistão que esse capítulo de sua vida começou a se desenhar.
Os dois jovens permaneceram dez meses no país vizinho ao seu, onde solicitaram o visto humanitário ao governo brasileiro.
“Em maio de 2022, nós recebemos a notícia positiva de que poderíamos vir residir no Brasil, e o país se tornou a nossa fonte de esperança”, conta Azizi.
Os dois beneficiaram da Portaria Interministerial MJSP/MRE nº 24 adotada em setembro de 2021 pelo Governo Federal que estabeleceu a possibilidade de acolhida humanitária para cidadãos afegãos, apátridas e pessoas afetadas pela situação de grave ou iminente instabilidade institucional, de grave violação dos direitos humanos ou do direito internacional humanitário no Afeganistão. Desde então, assim como os irmãos Azizi, outras mais de 11.000 pessoas do Afeganistão entraram no Brasil.
O desafio de embarcar para um novo país, cujo idioma e cultura até então eram desconhecidos não era pequeno, mas os dois irmãos chegaram impulsionados pela coragem de começar a vida novamente. “Eu cheguei em São Paulo no dia 30 de maio de 2022 já pensando em realizar meu sonho, que sempre foi o de trabalhar na área humanitária”, explica.
“Já visitei muitos países e posso dizer: o Brasil é o que faz com que eu me sinta em casa. Os brasileiros têm um grande coração”, explica Azizi, emocionado.
“Sou muito feliz de ter o Brasil como a minha segunda casa”.
Hoje, o afegão possui visto de residência permanente e pretende seguir sua vida por aqui.
Nos primeiros meses após sua chegada em solo brasileiro, Fatehullah Azizi se dedicou a conhecer o novo país. Na capital paulista, o afegão começou a estudar a língua portuguesa em cursos oferecidos por iniciativas voltadas para migrantes, que também oferecem atividades de promoção da saúde, integração e coesão social.
Nesse percurso, Azizi não deixou seu sonho de lado, e em fevereiro de 2024 se tornou trabalhador humanitário da OIM, a Agência da ONU para as Migrações, compondo a equipe de integração socioeconômica.
E quando, em maio deste ano, o desastre ocasionado pelas graves inundações se estendeu pelo Rio Grande do Sul, fazendo com que mais de 400.000 pessoas tivessem que deixar suas casas, Azizi se prontificou a estar ao lado dos colegas e apoiar as pessoas do estado que recebiam o suporte da Organização.
“Eu sabia que vir para o Rio Grande do Sul seria um desafio, especialmente pensando na minha história pessoal, mas fui encorajado pelos meus amigos e meus colegas. Decidi vir com a ideia de que, se eu pudesse ajudar uma pessoa, pelo Brasil e pelos brasileiros, eu estava fazendo o certo”, relata.
Assim, em julho, Azizi integrou a equipe da OIM que dedica seus esforços à gestão dos Centros Humanitários de Acolhimento no RS, localizados em Canoas e Porto Alegre, e destinados a abrigar as pessoas que perderam suas casas devido às inundações. A ação é uma parceria com o governo do estado, prefeituras e Sistema Fecomércio e visa prover um acolhimento digno e com uma abordagem transversal em direitos humanos proporcionando ainda atividades de integração socioeconômica.
“Essas últimas semanas têm sido bastante intensas, mas também me trazem felicidade por ajudar essas pessoas. É o que conto para meus pais, quando falo com eles”, relata.
“Para mim, é um orgulho poder ajudar os brasileiros, por tudo que o Brasil fez por mim, por me dar essa oportunidade de começar tudo de novo”, completa, emocionado.
Para o futuro, Azizi pretende seguir ajudando quem mais precisa. Ele também quer se dedicar a aprender cada vez mais a cultura brasileira, almejando ampliar a fluência no português. Para isso, pretende realizar um mestrado, complementando seus estudos de Administração e Negócios.
“Faço tudo isso pensando também em apoiar as minhas irmãs, para que elas possam seguir estudando. Isso me motiva a seguir em frente”, conta. “O resto da minha família ainda está no Afeganistão: meus pais, minhas irmãs e o meu irmão mais velho. Quero trazê-los para o Brasil”, complementa.
Azizi diz ainda que tem muito orgulho de seu trabalho. Para ele, poder atuar na causa humanitária, principalmente como funcionário da OIM e no Brasil, é algo que o faz se sentir realizado. “Enquanto eu estiver vivo, eu quero poder ajudar as pessoas”, finaliza.
Neste Dia Mundial Humanitário, celebrado no dia 19 de agosto, a OIM, a Agência da ONU para as Migrações, reconhece os esforços de todos os trabalhadores humanitários, que, assim como Fatehullah Azizi, dedicam suas vidas para proteger as pessoas em movimento, garantindo a dignidade do próximo e ressalta a importância de atuarmos pela humanidade.
Para saber mais, siga @oimbrasil nas redes e assista ao depoimento de Azizi no canal da OIM Brasil no YouTube.
Artigo retirado do portal da ONU Brasil no dia 19/08/2024
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