Damata Cultural e a “caminhada Juiz de Fora”: Uma Negra Trajetória

A Damata Cultural é um coletivo dedicado à criação de projetos culturais nas áreas de educação, turismo e eventos. A equipe é formada por três sócios: Amanda Pimentel Lira Cruz, graduada em História e atualmente mestranda no PPGH-UFJF; Luís Roberto da Silva Cruz, também graduado em História e mestrando no PPGH-UFJF; e Pâmella Stéfanie do Nascimento, formada em Turismo pela UFJF e Guia de Turismo certificada pelo CADASTUR. Iniciamos nossas atividades entre 2021 e 2022, durante o processo de reabertura social no Brasil, após a pandemia de covid-19.

Entre 2020 e 2022, enfrentamos uma das mais severas crises da história recente, conforme o Ministério da Saúde, nos primeiros dois anos da pandemia no Brasil, 693.853 vidas foram perdidas, uma tragédia agravada pela gestão inadequada do governo na época. Além do alto número de óbitos, a COVID-19 provocou uma crise econômica. O distanciamento social, a medida mais eficaz para salvar vidas, impediu a sociedade de se reunir e forçou muitos setores a fecharem suas portas para conter a disseminação desse vírus altamente contagioso.

A cultura foi um dos setores mais afetados conforme pesquisa realizada pelo núcleo de eventos do IF Sudeste MG – Campus Juiz de Fora. Conduzida pela professora Gheysa Lemes Gonçalves Gama e respondida por 180 profissionais do setor de eventos na cidade, o estudo relata que cerca de 69,8% dos entrevistados tiveram uma redução de pelo menos 50% em sua renda durante a pandemia, no entanto, analisando os dados da mesma pesquisa é possível concluir que apesar dos desafios, aproximadamente 80% dos participantes expressaram otimismo em relação à recuperação e encontraram apoio em editais e leis de incentivo cultural oferecidos por órgãos públicos em níveis municipal, estadual e federal.

É nesse contexto de crise e esperança que a Damata Cultural surge em Juiz de Fora, com a proposta de desenvolver projetos nas áreas de educação, turismo e eventos, apoiados por editais de incentivo à cultura, trabalhamos, desde 2022, realizando diversas ações voltadas para as áreas da cultura negra, como o Slam da História, Sarau do Sararau , o Charme Damata que dialoga com a cultura Hip Hop, e por fim, inserida no campo do Afroturismo, a Caminhada Juiz de Fora Negra.

A “Caminhada Juiz de Fora Negra” é uma iniciativa de entretenimento por meio do turismo de memória que destaca as histórias construídas pela população negra da cidade. O passeio leva os participantes pelas principais ruas e avenidas do Centro da cidade, proporcionando uma nova perspectiva sobre locais e espaços tradicionais de Juiz de Fora. As narrativas de resistência que compõem os roteiros da Caminhada Juiz de Fora Negra são baseadas em importantes pesquisas acadêmicas que abordam questões relacionadas à população negra em Juiz de Fora e no Brasil, como os trabalhos pioneiros de Hebe Mattos, Gaine Elisa, Rita de Cássia Felix, Elione Guimarães e Patrícia Lage, que nos ajudam a contar diferentes aspectos da memória negra local. Essas memórias estão conectadas a 10 pontos de parada na região central, que simbolizam eventos históricos relevantes na formação da sociedade juiz-forana. Juntamente, desempenhando um papel crucial em nosso trabalho e reproduzindo antigas tradições negras, como a oralidade, enriquecemos nossos roteiros turísticos baseados em entrevistas concedidas por e por homens e mulheres negras disponíveis no acervo Memórias do Cativeiro, mantido pelo LABHOI-UFF, e no acervo Juiz de Fora: Cidade Negra, acessível no site do LABHOI-UFJF. Tal recurso valorizam e fortalecem nossa ancestralidade.

Para ilustrar o alcance que atingimos com a Caminhada Juiz de Fora Negra, tomaremos como recorte o ano de 2023, momento em que executamos o projeto sob o apoio do edital Quilombagens 2022, empreendido pela Fundação Alfredo Ferreira Lage, a FUNALFA, autarquia pública de Juiz de Fora responsável por organizar a cultura na cidade. O levantamento que aqui apresentamos, foi realizado por uma de nossas sócias, Pâmella Stéfanie, para embasar os relatórios de prestação de conta, uma das etapas necessárias na execução dos projetos culturais apoiados pelo poder público.  

“Foram realizadas no ano de 2023, a partir do financiamento do edital Quilombagens 2022, 12 passeios  abertos a população, em geral, o nosso público são pessoas que atingimos a partir do plano de divulgação que envolve principalmente o uso do Instagram, e também matérias em jornais e telejornais locais, ao final, como resultado de estratégias e comunicação, tivemos a presença de um total de 177 pessoas nos passeios realizados. 

Além dos passeios abertos ao público, como contrapartida social, realizamos também 12 caminhadas para atender um público formado por diferentes instituições públicas e coletivos de cunho social e educacional que atuam em Juiz de Fora. Ao total, foram 154 pessoas, entre alunos da educação básica, superior, e também jovens foram atendidos por projetos sociais radicados no município. Assim, através do edital Quilombagens, pudemos com a“Caminhada Juiz de Fora Negra” atender a um total de 331 pessoas, marca de grande relevância tendo em vista a pouca tradição que tem Juiz de Fora dentro do campo do turismo de memória.” 

Apesar das experiências positivas, que incluem o reconhecimento que tivemos da prefeitura municipal e do campo do patrimônio cultural, que veio através do recebimento do prêmio, Amigos do Patrimônio 2023, entendemos que ainda há um longo caminho a ser percorrido pelo projeto. Nos próximos anos, esperamos aumentar o número de roteiros oferecidos, e consequentemente, de pessoas atendidas.  

De nossa parte, acreditamos que todo apagamento histórico no entorno da presença negra em nosso país é um crime de grande gravidade, da mesma maneira que, em nossa visão, ter a possibilidade de tomar conhecimento da importância das histórias e memórias negras é um direito/dever de todo cidadão brasileiro. A Caminhada Juiz de Fora Negra se propõe a suprir essa demanda de uma forma interativa, informativa e emocionante, todos os ingredientes que a cada dia fazem atrair mais pessoas interessadas em conhecer parte das raízes negras que formam nosso país. 

Referências Bibliográficas:

ALMEIDA, Giane Elisa Sales Entre Palavras e Silêncios: Memórias da Educação de Mulheres Negras em Juiz de Fora – 1950/1970. Universidade Federal Fluminense. Niteroi, 2009. Acesso em 20/03/24 https://livros01.livrosgratis.com.br/cp107448.pdf

ALMEIDA, Patrícia Lage de. Elos de permanência: o lazer como preservação da memória coletiva dos libertos e de seus descendentes em Juiz de Fora no início do século XX. UFJF. Juiz de Fora, 2008.

FÉLIX BATISTA, Rita de Cássia Souza. Clubes Negros na espacialidade urbana de Juiz de Fora. 2015. Tese (Doutorado em Educação) – Universidade Federal do Ceará, [S. l.], 2015.

FÉLIX BATISTA, Rita de Cássia Souza. O Negro e seus Meios de Sobrevivencia em Juiz de Fora – de 1988 a 1930. 1996. Dissertação (Mestrado em Etno História Latino Americana) – Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, [S. l.], 1996.

FONSECA, Daniel Estevão da. A CIDADE E A FESTA: UMA ABORDAGEM GEOGRÁFICA SOBRE O CARNAVAL DE JUIZ DE FORA-MG. 2019. 201 p. Dissertação (Mestrado) – UFJF, Juiz de Fora, 2019.

GUIMARÃES, Elione. Multiplos Viveres de Afrodescendentes Na Escravidão E No Pos-Emancipação: Familia,Trabalho, Terra E Conflito (Juiz de Fora-MG). [s.l.] Annablume Editora Comunicação, 2006.

RIOS Ana. Lugão, & MATTOS. Hebe. Memórias do cativeiro: família, trabalho e cidadania no pós-abolição (1o ed). Editora Record,  maio de 2005. 

ACERVOS:

MEMÓRIAS DO CATIVEIRO. Acervo Digital. LABHOI – UFF. NITERÓI, 2024. Disponível em: <http://www.labhoi.uff.br/narrativas/depoimentos>. Acesso em: 17/11/2024.

JUIZ DE FORA: CIDADE NEGRA. Acervo Digital. LABHOI – UFJF. JUIZ DE FORA, 2024. Disponível em: <https://www2.ufjf.br/labhoi/apresentacao/juiz-de-fora-cidade-negra-centro-de-referencia-sobre-a-memoria-negra-em-juiz-de-fora/>. Acesso em: 17/11/2024.


DAMATACultural:

Amanda Pímentel Lira Cruz:

Produtora na Damata Cultural, pesquisadora no Labhoi/Afrikas UFJF e mestranda em História no Programa de Pós Graduação em História da UFJF.

 Luís Roberto da Silva Cruz:

Historiador, produtor, músico, cantor e compositor radicado em Juiz de Fora. iniciou sua trajetória profissional na área cultural em 2022 através na damata cultural. também atua na área da educação como professor e mestrando em história pelo PPGH-UFJF com pesquisas ligadas a história do povo negro no brasil.

Pâmella Stéfanie do Nascimento:

Turismóloga, Guia de turismo credenciada pelo Cadastur e Pós-graduanda do curso de Empreendedorismo Social e Negócios de Impacto.

Pâmella Stéfanie do Nascimento:

Turismóloga, Guia de turismo credenciada pelo Cadastur e Pós-graduanda do curso de Empreendedorismo Social e Negócios de Impacto.


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