Tem um tipo de chuva
Que só Juiz de Fora sabe chover
É duma persistência espantosa
E força sutil demolidora
Invejem Londres e Petrópolis
As gotas que aí caem
Não são como as de cá
A cortina d´água é louca
Ou recobre toda a cidade
Num teto ora cinza ora branco não-se-vê-nada
Ou varre-nos de norte a sul
Ou contorna o relevo acidentado caprichosamente
E aqueles dias de chove-sol
A (im)previsão do tempo garante
Nunca se sabe o clima neste urbe
Estações ao longo do ano pra quê
Se cabem todas num dia só?
Será possível evaporar tanta água
Que justifique a chuvarada desvairada?
Correntezas morro abaixo
Balé dos pedestres na busca da trajetória perfeita
Na calçada esburaquada
E as explicações ao universo infantil
Deus está lavando o céu!
Haja faxina! Deus me livre…
E me perdoe o trocadilho
Não pude resistir
O mesmo elemento da vida
É também o da morte
Pelos alagamentos e deslizamentos
Já me acostumei a prever a chuva por seu cheiro característico
E a rezar, irritado, pelo fim de muitas delas…
As plantações agradeceriam a moderação
Os preços das verduras idem
De que vale chorar?
Só iria aumentar o dilúvio anual.
Louvemos a música popular brasileira
Nos rendendo ao óbvio
“Chove chuva
Chove sem parar”
E aprendamos o básico da navegação
Qualquer dia desses
Pode ser de grande utilidade
Gabriel Lopes Garcia é poeta. Atua como professor de Física nas horas vagas.
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