Carros, buzinas, WhatsApp, notificações de e-mail, Instagram, Facebook, alguns passarinhos, pensamentos sobre a situação do país, do mundo… a pobreza, injustiça, a poluição, o consumismo, as discordâncias e poucas concordâncias.
Em um contexto violento para o nosso cérebro, o pensamento pode equiparar- se a um computador, no qual há um fundo de tela, geralmente com a pior preocupação, e ali estão dispostos de maneira desorganizada, inúmeras pastas que dizem respeito aos muitos assuntos a serem resolvidos, sem mencionar as múltiplas abas em aberto. Na cabeça de um ansioso, existe muita preocupação e poucas certezas. Praticamente uma foto do mundo, uma foto do caos.
Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), apontam que a prevalência mundial do transtorno de ansiedade (TA) é de 3,6%. No continente americano esse transtorno mental alcança maiores proporções e atinge 5,6% da população, com destaque para o Brasil, onde o TA está presente em 9,3% da população, possuindo o maior número de casos de ansiedade entre todos os países do mundo (WHO, 2017).
Isso mesmo, meu país, o suposto país da alegria, da natureza, da diversidade cultural, é o campeão em acumular pessoas que vivem amedrontadas pela realidade líquida, pelas incertezas. E isso a ponto de prejudicar fortemente o estado de saúde do indivíduo. Quanto barulho…
Barulho que a própria mente cria, barulho que vem de fora, barulho que vem de dentro. Barulho… Seria possível um pouco de silêncio? Pode ser, vamos ver: inspirações longas e expirações tão longas quanto. Alguns minutos de calma, mas o celular toca por qualquer motivo que seja. Se não fosse isso, outro barulho interromperia o tão necessário silêncio.
Lutar tanto contra tantos estímulos gera um cansaço violento. Somam-se a isso a bagagem emocional, os traumas, os medos, os remorsos, a genética, o estresse, as disfunções neuroquímicas, tão “naturais” quanto a resistência insulínica em um portador de diabetes tipo 2. Medo do futuro, peso do passado, cansaço.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), o aumento progressivo de casos de depressão no mundo deve ser motivo de alerta. Entre 2005 e 2015, o número de casos da doença cresceu 18%. E o número de pessoas afetadas pela depressão já chega a 322 milhões em todo o mundo. Destacam-se ainda os casos de suicídio, que já ultrapassam a marca de 800 mil casos registrados anualmente (WHO, 2017).
Dados e números, por mais alarmantes que sejam, não afetam tanto quanto sentir na pele o monstro que rouba a paz. Para cada pessoa ele tem um nome, para alguns, ele se chama depressão, para outros, transtorno de ansiedade, para outros, Burnout, para outros, transtorno de estresse pós-traumático. E para outros, ele se chama o que quer que seja que paralisa.
Por favor, faça silêncio. Silenciemos um pouco. Como um liquidificador que não pode ficar ligado batendo um suco na tomada o dia inteiro, a nossa mente, o nosso corpo, requer limite (singular proposital, afinal, estamos falando da mesma coisa). Um pouco menos de estímulos, quem sabe, um pouco menos da necessidade irrisória de aparentar, um pouco mais de momentos de tomar chá, sem pressa, um pouco mais de
Abraços prolongados, de beijos, de escancarar (para quem merece) quem de fato está falando, vulnerável como é. Ser e aparentar ser um ser humano tão frágil e ao mesmo tempo tão forte. Quem sabe se permitir “perder” um pouco da produtividade, e ganhar mais criatividade, que só é possível com a humanidade, com a arte de ser tão complexo e tão simples. Talvez o barulho poderia se transformar em música, e menos vidas seriam silenciadas, se tão somente admitíssemos ser quem de fato somos, a tempo.
Nota: o texto se refere a uma visão subjetiva da relação entre transtornos psiquiátricos e a sobrecarga de informações. Procure um médico em caso de sofrimento psíquico para o tratamento adequado.
Viviane Brito Guimarães, frágil e forte, vulnerável, amante de música, eterna aprendiz e médica formada pela Universidade de Ribeirão Preto.
Galeria
Apoie causas humanitárias. Em tempos de cólera, amar é um ato revolucionário.