Pinheiral é uma cidade localizada na região do Vale do Paraíba, no interior do estado do Rio de Janeiro. O pequeno município conta com menos de 25 mil habitantes e uma alcunha notável: é considerada a capital estadual do Jongo. No ano de 2015, foi fundado nas ruínas da antiga fazenda de café, o Parque das Ruínas da Fazenda São José do Pinheiro (Ruínas do Casarão), que abriga um memorial na forma de uma roda de jongo. O projeto do artista visual André de Castro conserva a memória de uma vivência afrodescente da cidade em uma exposição a céu aberto, contando a história da fazenda e da época da pós abolição na região.
A Fazenda de São José do Pinheiro pertenceu ao Comendador José de Souza Breves, construída em 1851, se destacava pela impotência e pela soberba de suas dependências, sendo citada por escritores como Emílio Zaluar como “um palácio elegante e suntuoso como qualquer palacete da Corte”. O casarão contava com oficinas, capelas, um hospital, salões e os tradicionais terreiros de café. Durante seu período de atividade, existiram na propriedade dois mil escravos, dos quais 30 eram destinados ao serviço doméstico. Além disso, ficou famosa a existência de uma orquestra formada por negros que aprenderam a arte da música com um professor contratado pelo comendador. Contudo, nos anos de 1986 e 1990, a construção original foi destruído por incêndios, resultando em um prédio em ruínas e algumas lendas locais sobre fantasmas, barulhos de correntes e objetos que se movem. Hoje o espaço comporta um Instituto Federal (Colégio Agrícola Nilo Peçanha), e o Parque das Ruínas, uma nova atração turística.
Além da exposição, o memorial conta com a atuação do projeto Passados Presentes, que tem como objetivo reconhecer as histórias do povo negro e estimular o turismo de memória no Rio de Janeiro. Foram desenvolvidos um aplicativo para celular que permite a interação com o monumento, e quatro roteiros que possibilitam ao visitante transitar por outras exposições do projeto em outras cidades.
“O projeto Passados Presentes foi elaborado a partir do Inventário dos Lugares de Memória do Tráfico Atlântico de Escravos e da História dos Africanos Escravizados no Brasil, – um trabalho coordenado por Hebe Mattos, Martha Abreu e Milton Guran, no Laboratório de História Oral e Imagem da Universidade Federal Fluminense (LABHOI/UFF), com apoio do Projeto Rota do Escravo, da Unesco, em 2014.” – http://passadospresentes.com.br/site/Site/index.php
Eu cresci em Pinheiral e estive presente no dia da inauguração do Parque das Ruínas, que foi celebrado com uma roda de capoeira e uma de jongo, além de um cortejo em celebração a Nossa Senhora de Santana e o lançamento e exibição do documentário “Conta um ponto”, que homenageia a história dos jongueiros. Com as fotografias que fiz neste dia (26/07/2015), elaborei uma colagem figurativa que adotou o formato de uma negra de turbante. O uso do turbante para as culturas afro-americanas e afro-brasileiras é um símbolo, além de resistência contra o racismo, também de afirmação de uma identidade coletiva. A partir disso, busquei criar um diálogo entre a construção de uma identidade afrodescendente, e o papel de consciências políticas, sociais e culturais ao combater mecanismos opressores como a invisibilização, a intolerância e o racismo.
“Somos um dos poucos municípios onde o Jongo nunca ficou adormecido. Nós herdamos esta herança dos negros que foram escravizados aqui e esta tradição vem sendo passada de geração a geração desde a época da escravidão. Então a gente tem muito orgulho de preservar esta tradição e levar isso para o Brasil inteiro, pois nossos trabalhos não são feitos apenas aqui e nos municípios vizinhos, mas a nível nacional – disse Fatinha lembrando que, além do Dia Estadual do Jongo, Pinheiral é o único município que tem um Dia Municipal do Jongo. “O Jongo é a verdadeira história do povo negro e representa a luta pela liberdade na época da escravidão” – Maria de Fátima Silveira Santos (Representante do Creasf – Centro de Referência Afro do Sul Fluminense) – https://diariodovale.com.br/cidade/ruinas-de-casarao-em-pinheiral-sao-transformadas-em-memorial/
A tentativa de silenciar as heranças deixadas pelos africanos é perpetuada por ideologias nos tempos modernos, estas que muitas vezes são fruto da ingenuidade e da ignorância. Por outro lado as tradições culturais e religiosas afro brasileiras são preservadas e imortalizadas em diversos núcleos e cidades do país. A preservação dessas práticas antepassadas resistem ao tempo, à intolerâncias ideológicas e à violências de todas as formas. Que nós encontremos nossa força para combater as novas mordaças, no conhecimento, na legitimação de vivências negras e na reverência de nossa ancestralidade.
Laura Kasemiro é estudante de artes, mas adoraria ser uma contadora de histórias
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Galeria
Sobre a artista:
Amanda Oliveira iniciou sua jornada com a Fotografia em 2005 e tem como norte em seu trabalho a cultura e a religião afro-brasileira na Bahia. Seu principal foco é relacionar essas duas vertentes com as comunidades litorais do estado baiano, como em uma das suas pesquisas autorais sobre os festejos populares para o orixá Yemanjá, divindade africana conhecida como rainha do mar.
Profissional desde 2009, recebeu o prêmio de 1o lugar no VIII Salão de Fotografia da Marinha do Brasil, possui obras permanentes no Memorial Pierre Verger da Fotografia Baiana e participou de 25 exposições, dentre elas: as internacionais “The Fifth Annual Exposure Photography Award”, no Museu do Louvre, Paris e “Scope International Conteporary Art Show” em Miami; “Olhares Afro Contemporâneos”, em São Paulo (BRA) e “IBEJI ERÓ”, em Salvador (BRA).
Além das exposições, é contribuinte do Coletivo Everyday Brasil, teve publicações no site da National Geographic Brasil e em outros veículos, como na revista alemã SportBild e na revista brasileira Amarello; participou de eventos de fotografia, como facilitadora de oficina no Festival Os Brasis em SP (Red Bull Station, São Paulo), no Simpósio de Comunicação Reconexo (Cachoeira, Bahia) e na Semana de Fotografia da Bahia na Caixa Cultural de Salvador.
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Como é importante manter viva nossa cultura, nossa história… Quanta riqueza no texto! Parabéns e obrigada pelas informações e ilustrações!