É noite no Saara
O silêncio é profundo
Há uma quietude isotrópica
Beremiz está sentado, reflexivo
Junto ao resto da fogueira
O fogo ardeu
As pessoas dançaram
Um ritual beduíno
Tambores rufaram
Árabes cantaram
As últimas brasas crepitam
Estalam, iluminam fracamente
Vento ao rosto
A areia se esparrama
Sob o pálio galáctico
Pensamentos fluem livres
Sentimentos passeiam sossegados
O olhar fixa a abóbada celeste
Quantas estrelas a brilhar!
Quanta beleza a encantar!
O vazio preenche por completo
É possível ouvir o não dito
Os dedos esticam e tocam os astros
Brincam de mudar as posições
Compor novas formações
Arranjos inéditos
Envolto na coberta
Suspira El-hadj a observar
O balé cósmico
Os olhos a vaguear
No caminho luminoso do céu
Tenta ligar estrelas
Como pontinhos de desenho
E ali está...
Não mais Cassiopea
Mas o sorriso de Leilá
Dançando o baile sideral
Abre os braços ao Chamir
E dançam juntos, felizes
Sozinhos no deserto
Ao ritmo da Via-Láctea
Gabriel Lopes Garcia é poeta. Atua como professor de Física nas horas vagas.