Nascer é o primeiro verbo  

A todo instante  A palavra escapulia   Da ponta firme da caneta   Dobrei, então, as bordas da página   Para que dali não escapasse  Na tentativa, desenhei um ponto  Profundo, sem fundo   No meio da página, esperando   Que, de repente, vagasolta,   Nele a palavra tropeçasse   E no susto se revelasse  Um S, indaguei.   Imaginei que aquela curva que emergia   Em torno do abismo, no centro da página,  Inseminava uma palavra   Mas era um ovo:   o universo não nasce do Nada.   Cibelle Almeida é natural de Belém PA e vive, há mais de 10 anos, em Brasília DF, onde desde então, trabalha em organismos internacionais. Entusiasta da arte, vem experimentando e estudando diversos recursos de criação e expressão, entre …

Espanta-espíritos

Inesperadamente, a tempestade abatera-se naquele lugarejo perdido e cravado na encosta granítica da montanha. O ribombar dos trovões e o céu iluminado e cruzado pelas faíscas atemorizavam os poucos habitantes que ainda teimavam em ficar, e que persistiam no cultivo de uma esterilidade de parca subsistência. Os mais novos havia muito que tinham partido, numa …

Monogamia de emaranhamento

Os fótons são fiéis Mesmo quando um deles Para sempre se vai No buraco negro É ligação que não se rompe No espaço-tempo Não há relatividade Na atração quântica A luz um para o outro Mesmo que outros fótons  Se exibam sensuais Em frequências radiantes Energias gêmeas Unidas pelo Cosmos  Partículas aceleradas  No coração estelar …