JOY, Sudabeh Mortezai

Em tempos políticos como os que estamos vivenciando – debates a todo momento sobre as identidades étnicas e a luta anti-colonial – encontramos um filme extremamente importante e revelador que ilustra todo o caos que as imposições coloniais trouxeram à outras comunidades do mundo com sua violência. “Joy”, da diretora Sudabeh Mortezai, (Áustria, 2018) , estreou na Netflix, em meados de Junho, vencedor em diversas categorias em festivais pelo mundo, [https://www.imdb.com/title/tt8917752/awards?ref_=tt_awd], nos trazendo um retrato devastador do horror colonial. Dentre as diversas discussões que JOY trás à tona, um dos principais retratos na construção do filme é a brutalidade do processo colonial na vivência das mulheres na Nigéria, que buscam na prostituição a saída para sair de condições sub-humanas de existência.

A Nigéria conquistou sua independência apenas nos anos 60, sendo até essa data, uma colônia de exploração inglesa. Após a conquista de sua independência, os conflitos étnicos internos fizeram com que a Nigéria ainda seja uma zona de tensão étnica, política e social, por ser um dos maiores produtores de petróleo do mundo.

O filme retrata a vivência de mulheres negras que, ao sair da Nigéria buscando melhoria das condições de vida para si e para seus familiares, se submetem ao sistema do tráfico sexual internacional. Nesse retrato encontramos as diversas relações de poder e os confrontos interculturais que subjugam seres humanos em todo mundo. Um retrato nu e cru da violência em que indivíduos imigrantes são expostos, até mesmo pelas organizações e ONGs que tentam auxiliar na quebra dessas relações. Questões latentes como o racismo epistémico são reveladas através do filme, demonstrando como a lógica das crenças afro-centradas entram em conflito com o modus operandi cartesiano europeu.

Ao nos depararmos com um panorama cruel e avassalador da realidade social das mulheres negras nigerianas, encontramos laços para pensarmos nas diversas perversidades e formas de exploração dos corpos negros no mundo, nos auxiliando a nos tornar mais resilientes enquanto cidadãos e agentes sociais na transformação de todos os resquícios da tragédia colonial.


Raizza Rodrigues Prudêncio é Artista Visual e Designer

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