O Eu, o Outro e o Tempo: Práticas de Memória e História na Produção Artística

Estou sempre escrevendo sobre o outro. O outro que também fala de mim. O outro que diz de um entorno prestes a me laçar, capturar e envolver num ritmo próprio. O outro que diz de um símbolo fluído e que, quando em alta temporada, se mantém no imaginário na escala do constante. 

A vida reverbera o teatro das relações do ser e do dever, cerceadas por um fio de poder inerente a toda sociedade, com toda a sua carga de pós verdade: penso, logo existo. NÃO, acredito, logo estou certo. – eles dizem, eles cantam, eles suspiram e bombardeiam nos espaços símbolo que, de forma capilar, emitem faíscas ideológicas. 

Penso em alguns eventos que pediram do homem: coragem. Marchas, cantos, gritos inflamados, rostos vermelhos e olhos esbugalhados: cenários que invadem o movimento do artista e rasgam o lugar de análise. Dizem: ame ou deixe o. 

Como responder? Me perguntei. De fato, não há uma resposta programada para eventos não programados. O princípio da história parte de uma ideia de que as coisas se constroem, e que, em continuidades e descontinuidades, se faz o ritmo do e no tempo. Koselleck analisaria, enquanto concepção de tempo, por espaço de experiência e horizonte de expectativa. 

Em termos de espaço de experiência, que diz de um presente, há uma onda de sensações e óticas próprias e plurais, que apontam para um horizonte, carregado da então expectativa. O que esperar quando não se espera mais? O que de fato nos serve de combustível e impulsiona a arte do criar? Será o presente o cenário próprio das inspirações mais diversas? 

Coragem, eu disse em um parágrafo. Acredito que, em tempos de (deveras) coragem, o espaço de experiência pode se remeter a uma dança com o tempo. Buscar formas e inspirações ao longo da história da humanidade é o que, de fato, pode dar combustão ao tato criativo de cada um. 

Entender que a própria História é uma ferramenta gratuita para o uso de produção artística, remete a uma função ainda pouco utilizada. Acredito ser por isso que digo sempre do outro, no que canto, no que escrevo, no que penso. Marc Bloch diria que  “o historiador é como o ogro da lenda. Onde fareja carne humana sabe que ali está a sua caça.”; eu concordo. Dado o lugar que me formo e que falo, procuro sempre farejar o homem em seus distintos momentos, entendendo que sempre (e digo sem nenhum medo), as coisas irão mudar. 

Dessa forma, coragem é virtude aquecida por um coração esperançoso. As coisas mudam. Dancemos pois pelo tempo, afim de enriquecer a nossa criatividade despejando sobre o presente os auxílios para um horizonte melhor.


Gyovana Machado é graduanda em História pela UFJF, formada no Seminário Teológico Rhema Brasil, líder de música em A Igreja. 


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