4. O Navio que Temos

Estou de pronto
aprendiz que diz
num salto que o
respeito do voto observa
tudo ao redor

Estou de frente
ao que se faz
premente
ao voto que
se diz consciente
ao voto que se diz
e se faz pujante

Estou aqui
insano, num afã
de entender o mundo
entender o fundo disso tudo

Eis que no céu me surge
as asas flanando de um corvo
e ao lado dele um albatroz reluz
É o mesmo dos campos atrás
o mesmo dos mares de antes?
O mesmo que emprestou
as suas asas ao governante maior,
ao capitão, ao mito poético
chamado Castro Alves?

O mesmo das ignomínias vistas
de torpezas sentidas
num navio vindo da África?

Acho que sim!
E esse mesmo albatroz me oferece
carona nas suas asas bem-vindas
nas suas asas benquistas
no seu voleio, no seu trajeto
pelo Brasil, no seu torneio
e volteio enxergando a coisa insana

Mas o que vejo ali, meu albatroz querido?
O que percebo ao redor dos meus irmãos?
A destruição, a deterioração de tudo conquistado, através de ódios serenos e vazios
escondidos em apartamentos e casas
confortavelmente rodeados de franquias e direitos monetários
em lares repletos de escapulários
em cheiros assépticos de vidas
repletos de falsos mais
rodeados de menos

Oh, albatroz, me conduza mais adiante
me mostre o desmonte da vida em família
me diga que estou errado!
me aponte o caminho
porque esse destino se forja intestino
Apesar da maioria, apesar da ignomínia
apesar da insensatez, da memória infeliz
de cada ser que votou na estupidez!

Darlan Lula é doutor em Literatura Comparada pela Universidade Federal Fluminense. Escritor, autor de cinco livros, entre prosa e poesia. www.darlanlula.com.br


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