O Brasil e a Caixa de Pandora

De todas as ideologias que disputam espaço entre as narrativas pós-modernas, talvez a mais contundente seja a de que o maniqueísmo social polariza os grupos políticos e demoniza aquele que pensa diferente.

O maniqueísmo foi uma espécie de dualismo religioso sincretista, cuja origem remonta à Pérsia, mas que encontrou generoso abrigo durante o Império Romano. Digamos que o maniqueísmo consistia, basicamente, em afirmar a existência de um conflito cósmico entre o reino da luz (o Bem) e o das sombras (o Mal). Parece familiar, não é mesmo?

Muito embora a familiaridade da ideia da existência dessa disputa de proporções dantescas crie um ecossistema de crenças onde a nuance, a diversidade e as infinitas possibilidades de se ler e interpretar o mundo sejam apagadas, não podemos nos deixar influenciar por este apelo à dualidade.

Falar em diversidade, implica em admitir a complexidade da realidade que apreendemos, nisso que chamamos de existência. Nada é tão simples que possa ser descrito com clareza ou tão complexo que seja impossível de se perceber. Por isso o apelo à polarização é tão sedutor. Na falta de entendimento, trazemos para perto aquilo que se assemelha ao que nos conforta. Buscamos no viés de confirmação, alicerces para edificar nossa ignorância.

O fato é que, ao criarmos rasos meios de aferir a realidade, construimos arquétipos de moralidade baseados em nosso confortável e medíocre repertório estético: o que me parece bonito permanece ao meu lado, o que eu considero feio, repudio e defenestro. Uma espécie de caixa de pandora clandestina, onde mantemos aquilo que nos ampara e deixamos seu exato oposto escapar. Assim, nossas visões de mundo são construídas de maneira precária, de modo que o que não está comigo, está contra mim.

Por outro lado, gosto de pensar que a busca pelo equilíbrio é, talvez, a maneira mais inteligente de se recuperar as nuances do debate político no Brasil.

É importante buscar a dualidade que escapou da caixa, porque quando contamos apenas com nosso viés de confirmação para construir nossas visões de mundo, não há ponderação sobre as perspectivas de perceber que a vilania do outro é, na realidade, uma sombra da minha ignorância.

Nesse sentido, a volta de Lula à arena de debates não é só muito importante mas também necessária. Ela trará de volta a ideia que escapou de algumas caixas e proporcionará a muitas pessoas a possibilidade de contestar a espessa camada de falsas acepções sobre a vida, a política e a sociedade brasileira que foram cristalizadas ao longo dos últimos anos. Mais do que isso, ela trará de volta a ideia de que, na postura verde e amarela em impor uma visão específica à todos, a liberdade e a esperança tem cor de luta.


Frederico Lopes é Artista, educador e gostaria de ser Escritor. Trabalha no Memorial da República Presidente Itamar Franco e é fundador da Bodoque Artes e ofícios.


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