Guiné-Bissau: Viagem inesquecível

Uma viagem longa, atravessar o oceano atlântico para encontrar a outra realidade. Encontrar outro mundo. Um mundo cheio de surpresas e lições. Um mundo cheio de cores e amores. Cores vibrantes e amores profundos. 

Ah, como o solo africano é apaixonante! As casas não têm o conforto que estamos acostumados. Na mesa, não há fartura e variedade. Arroz é o prato principal. Às vezes, quando tem, um peixe é um banquete. As crianças vivem do lado de fora da tabanca – a casa típica do país – correm atrás dos pneus que são os brinquedos mais disputados. Felizes com o pouco, ensinam a gente a viver de verdade.

Símbolo de força, determinação, trabalho duro e amor. Verdadeiras heroínas que combatem a miséria com sua vida. Dia após dia, saem em busca do alimento para a família. Quase sempre, difícil de encontrar. Tira dela mesma para dar aos outros. Trabalha sempre curvada e a dor não as impede de fazer com amor. Carrega os filhos nas costas. Carinhosa. Dedicada.

Cuida dos filhos com firmeza e compromisso. Não se ofende se outro chamar a atenção da criança. A cultura dá autoridade a qualquer um mais velho repreender. A mulher guineense é uma verdadeira inspiração. 

Fazem tudo com paixão e determinação. Obrigada, guineenses! Vocês me ensinaram o que é ser mulher!

No meio da viagem, não posso deixar de contar, alguns meninos chegaram ao portão de nossa casa e viram o Enzo, um garotinho de 11 anos, brasileiro, começaram a chamá-lo para brincar de bola. Quando viram nos pés do Enzo uma chuteira, ficaram encantados!

Um dos meninos pediu com os olhos brilhando! O Enzo não pensou duas vezes, tirou dos pés sem demora e deu ao garotinho! Que atitude linda! Sem reservas, uma criança se entregou e amou seus irmãos. Mas essa não foi a parte que mais me tocou.

O garotinho que ganhou, viu o colega triste porque não tinha nada. Sabe o que ele fez?! Tirou logo uma das chuteiras e deu ao amigo. 

Cada um com um pé! E o futebol foi o mais cheio de amor que já vi! No meio da dificuldade, os guineenses me ensinaram a dividir sempre! Mesmo que seja pouco! 

Cada rosto ficou gravado na memória. A simplicidade e a felicidade que tem, ficaram no meu corção. Não dá mais pra viver sem pensar naquela terra. Não dá mais pra sentar a mesa farta e não pensar naqueles que não tem. Não dá mais pra reclamar da vida, sem pensar na alegria que transborda no coração dos que parecem não ter nada, mas no fundo,  tem tudo. A viagem foi inesquecível, porque aprendi o que é viver.  Chinelo e vestido africano no meio das tabancas, olhando as casas humildes, famílias grandes, crianças correndo com uma alegria indescritível ao ver os “brancos” chegando. Realidades tão tristes, tão pouco sobre as mesas, mas tanto a ensinar. Alegria que vai muito além da realidade que vivem.  Um coração grato. Ah, não sei mais como contar tudo… meu coração acelerou, os olhos encheram de lágrima ainda mais vezes. Só posso dizer: obrigada por me ensinarem tanto!


Miriã dos Reis Sette Pereira é casada, professora e voluntária pela ONG “Get a smile”, balanta (etnia Bissau guineense em que a maioria dos que tive contato pertencem. Carinhosamente me deram o título) apaixonada por gatos, mas muito mais pelas pessoas. Gosto de comer uma coxinha de frango com catupiry, mas, amo mais comer o arroz puro feito com amor. Admiradora da natureza e de culturas diferentes. 



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