Bolsonaro, acabou. Você não é Presidente mais.

Carta aberta

Ao Exmo. Senhor Presidente da República Federativa do Brasil

Digníssimo Presidente da República, em primeiro lugar, gostaria que soubesse que uso esse pronome de tratamento cordialmente devido a importância do cargo de chefe de Estado, e não em respeito à sua pessoa.

Nesse exato momento, o país se prepara para sofrer um dos maiores golpes da sua história nos campos da saúde pública, política e economia. O avanço da COVID-19 promete mudar não só o Brasil mas o mundo como conhecemos em um futuro próximo. Tal ruptura é inevitável. Acontece que, na fila de países que estão diante dessa inevitável mudança, enfrentando essa pandemia, nós não ocupávamos o primeiro lugar. Nem o segundo ou o terceiro. Tivemos tempo pra observar como a doença se proliferou na China, (segunda maior potência mundial), Coréia do Sul, na Itália, Australia, Estados Unidos e outros países da Europa. 

Conectados como nunca, acompanhamos diariamente as medidas tomadas localmente e o tom de alerta com que as outras nações denunciavam o fenômeno em seu território. Para completar, ao confirmarmos o primeiro caso em terras tupiniquins, não foi preciso mais do que 48h para que uma equipe de pesquisadoras brilhantes, conseguisse sequenciar o genoma do vírus (aquelas que você cortou as bolsas, lembra?). Isso sem contar que, a partir daí, grandes especialistas, (que dedicaram toda sua vida na construção de uma carreira sólida na área da saúde e pesquisa científica), alertaram inúmeras vezes para o perigo que se aproximava. Mas você não os ouviu. Você nunca ouve ninguém além dos patetas aos quais chama de filhos, a claque de políticos e asseclas que o rodeiam ou o seu próprio ego, sempre ferido.

Entretanto, suas declarações têm me preocupado mais do que o normal. Não que isso seja uma novidade, claro, afinal de contas, é de conhecimento público suas falas racistas, misógenas, homofóbicas e criminosas – como quando disse que, caso se tornasse presidente, no dia seguinte fecharia o Congresso, (Algo que ainda não tirou de vista não é verdade?). Inclusive elas estão todas disponíveis na internet, para quem tiver estômago para assistir.

Enfim, desde a década de 1990, seja na câmara dos deputados ou no programa da Luciana Gimenez ao lado da Geisy Arruda e da Thammy Gretchen, sua fama de falastrão é atestada em todo território nacional. O problema agora é que, temos um fator que representa enorme diferença nessa conta, e envolve pessoas além de mim e de seus opositores. Temo dizer que seu fã-clube pessoal, (carinhosamente apelidado de gado), está debandado para outros pastos. A mim me parecem igualmente insatisfeitos com você.

Nos últimos dias, cada vez mais as informações passadas por vossa excelência se distanciam da realidade. E essa distância é cada vez mais percebida pela sua pequena parcela do povo. Aparentemente seu terraplanismo ideológico parece ter, finalmente, saído do armário para eles. Digo isso porque o caráter negacionista de suas afirmações diante de uma doença tão grave, além das constantes mentiras e tentativas de mobilizar as pessoas umas contra as outras, estão ruindo diariamente, diante da ameaça em comum. Podemos ouvir, novamente o som estridente das panelas reluzindo quase todas as noites. Dessa vez para você. E mesmo assim, ciente dessa situação, do alto de sua farta ignorância (da qual parece se orgulhar), você insiste em manter os velhos hábitos e os ataques e mentiras corriqueiras.

Diz a sabedoria popular que os tempos de crise expõem o pior e o melhor de cada indivíduo. Por este motivo, é comum, nesses momentos, observar mudanças radicais de comportamento em diferentes pessoas. Alguns, considerados sempre amáveis e cordiais, se mostram falsos e traiçoeiros. Outros, tidos como mal caráter ou inconsequentes, se revelam solidários e prestativos. Já você continua exatamente do mesmo jeito. Com ou sem crise, sendo um Zé ninguém ou o Presidente da República Federativa do Brasil, sua arrogância, egoísmo e anseio por vingança, o mantém afogado na vaidade, (triste fardo que carrega, tamanha sua prepotente insignificância).

O que precisamos agora é de coesão social Presidente. Precisamos de alguém com a envergadura moral que você não tem, e que não se esconda atrás de discursos antí-comunistas fajutos. Presisamos de um Presidente que se apresente ao serviço de forma inteligente e competente. Duas qualidades que, infelizmente, você não tem.

Digo, ainda, que acho realmente um pena você demonstrar, cada dia mais, ser inepto, ignorante e despreparado. Pobre do país que elegeu um governante que escolheu ser vulnerável diante de uma pandemia sem precedentes na história recente da humanidade.

De todo modo, queria só deixar registrado que vamos sair dessa. Não graças ao seu esforço, claro. Mas graças ao povo brasileiro, que entre erros e acertos, se mostra solidário e altruísta com seus pares, e aos poucos, reage ao impacto da grande ficha que acabou de cair. Em outras palavras: Bolsonaro, acabou. Você não é Presidente mais. Precisa desistir.


Frederico Lopes é Artista, educador, encadernador e escritor. Trabalha no Memorial da República Presidente Itamar Franco e é fundador da Bodoque Artes e ofícios.



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