Sessão de terapia

Agradava-lhe deitar no divã
As palavras fluíam desconexas
Aparentemente...
Não entendia porque vacilara tanto
Meses atrás
Na dúvida de procurar um profissional
Pesquisara termos curiosos
Inconsciente, id, superego
Ato falho (achou este muito engraçado)
Cognitivo comportamental
Estranho mesmo eram aqueles olhos castanhos
Por trás dos óculos de armação preta
Observando calados
Anotando segredos expelidos


CHRONOS
O que me lembro da infância?
Poderia ser mais específico?
A mãe fazia...
O pai gritava...
Na escola eu...
Quebrei a perna no clube!
Brincava na rua
Soltava pipa
Visitava os primos de Itaquaquecetuba
Aquela doença foi terrível [lágrimas]
Não, não me afeta mais
Imagine
Já superei
Relatividade


KAIRÓS
Porque fico com raiva de lembrar?
Invenção tua!
É para isso que te pago?
Você nem me conhece direito
Eu...  eu...
Não sei explicar
Só queria me curar de mim
Dessa alergia à felicidade
Acho que é o momento de enfrentar
Fantasmas do passado que me assombram, ainda
Como é? Explica melhor esse ponto
Reprodução de padrões...  interessante
Tem razão, reconheço esse aspecto
Você me causou um desconforto
Mexendo nessas coisas arquivadas
Mas estou sentindo um alívio, sem carga
Vamos continuar próxima semana, claro
Sincronicidade


AÍÔN
O Demiurgo balança no dedo
Uma casca de noz
Onde vivem reclusas
Todas as almas
E seu Espaço infinito
Eternidade

Gabriel Garcia é poeta. Atua como professor de Física nas horas vagas.


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