Quatro Odes a Ana

1 – Saudade em Espera

Não sei o que mais me prende: se as saudades de quem não conheço, se a esperança de ainda conhecê-la e olhar dentro de seus olhos e nada dizer-lhe, pois tudo já disse.

Já expus minhas verdades secretas.
Já esvaí- me em poesias,
em lamentos,
em desesperos.

Meu coração foi posto à prova, e percebi que não sou imune a paixões arrebatadoras de meu eu.

Escondo-me atrás de meus sonhos. Desconhecia até então minha capacidade de amar e de ser forte. Tudo me parece estranhamente novo. Lidar com ausências presentes, silêncios surdos, desejos freados. Só sei que ainda gosto dela, e como aquele cão do filme que espera seu dono na estação de trem todos os dias, a espero. Fito o horizonte distante e sua silhueta não me surge contra a luz; não ouço seu sotaque tão lindo de Alagoinhas, seu riso.

Há tanto tempo não a ouço me chamar de “meu anjo”, de “meu lindo”, de “meu amor”. Sua voz emudeceu. Sua escrita cessou. Seus traços continuam plasmados naquele retrato que lhe fiz como surpresa, que passou a integrar a coleção de musas ausentes, pois o maior pagamento de um retrato é um sorriso de satisfação do ente retratado. Apenas a amo, este sentimento tem resistido a razão, a solidão, a recusa. É algo novo. Aprendi a amá-la no vazio de suas indecisões, na mudez de sua fala, na escassez de sua presença, na finitude de sua escrita. Ainda a esperarei, venha até mim.

2 – Rosas em Silêncio

Hoje, a tarde de Alagoinhas foi fria.

À noite, em meio ao silêncio que de mim se apossou, ouço grilos – que, por ora, me distraem o pensamento de minha linda, de minha flor; seu sotaque parecia música aos meus ouvidos.

Não tive coragem de, por mais uma vez, despertar de um sonho bom. Aquela sensação gostosa de felicidade. Não lhe mandei mensagem alguma, poesias,  historias. Prefiro manter sua bela imagem na mente. Ela em si é a poesia que mais espero ter ao meu lado, para uma leitura diária por toda vida. Bela inspiração de amor.

Às vezes, vou até ela em prece; outras vezes, oro por ela; sinto suas dúvidas, seus medos e receios de apostar no amor.

As flores… sempre desejei dar-lhe um buquê de flores. Outro dia, as havia comprado em todo seu vermelho aroma. Nunca lhe confessei tal ato afetivo por mim perpetrado. Como disse certa canção Choram as Rosas, choramos juntos em meio a perfume e lágrimas, ao desistir de ir ao seu encontro. Hoje sonho em encontrá-la, sem rosas e com amor.

3 – Amor em Ausência

Entre a razão, a poesia e o sentimento, vivo solitariamente o amor.

Entre o amor, a razão e a poesia: encontro-me nesta encruzilhada de afetos sentidos, de palavras belas escritas, de sonhos idealizados no silêncio das solidões e das estranhas razões que pairam na mente de um romântico em plena paixão ardente e luminosa de agora.

Em declarações de amor, mergulhei. Amei-a em suas ausências. Fitei o horizonte na espera de vislumbrar sua silhueta contra a luz, até que se materializasse a flor mais bela destas paragens, minha musa, o meu amor, minha poesia-mulher.

Travei diálogos com o amor que havia dentro de mim, escrevi tudo o que de belo existia em meu coração, em minha alma, em toda sua pureza e essência: poesias, versos, estrofes, poemas, frases, bilhetes e cartas de amor.

Treino educar meus sentimentos-impulso. Ouço as sensações de amar. Sou um romântico à deriva em pleno mar das paixões. Eu a amo, a espero, a desejo, a quero muito. Ela, minha bem-amada ausente. Conversei com as flores, com a lua, com as estrelas, com as letras, na ânsia de recompor sua presença em mim.

Aconselhei-me com a intuição: Alagoinhas nunca me deu motivos para voltar, e agora me sinto como se parte minha estivesse lá, em algum condomínio da cidade que se verticaliza. Na minha fria e gélida urbe natal, eis que surge em mim o amor verdadeiro por ela. Tão forte perante às distâncias, tão paciente em face às esperanças.

Sou envolvido em silêncios profundos; fito o céu com alegria nos olhos em uma contemplação de fé no amor. Minha amada: no amor, você é lugar-poesia. Lembras que pintou meus sonhos de esperanças?

4 – Lagrimas dos Céus

Hoje, nessa tarde, o céu de Alagoinhas está cinza. No horizonte, sopra um vento frio, uma brisa gélida, e uma garoa intermitente. Tudo goteja feito as lágrimas que derramei por ela, minha musa, minha amada professora.

Talvez hoje os céus chorem comigo na ausência e no silêncio dela. Não sei, por que a espero tanto? Esta louca esperança que há em mim de prendê-la em meu abraço, respirar em seu beijo, ver o seu sorriso ao vivo e poder dizer-lhe téte a téte, te amo… Chega de escrever, verbalizar, poetizar! Apenas te amo e não te deixarei ir.

Apenas sonho de poeta-pintor que escreve retratos de amor, pinta-lhe sua face com letras e fantasias de felicidade.

Como a espero! Desta vez, olho por entre as janelas de minha casa através do ar embaçado desta minha Alagoinhas natal. Olho na expectativa de ver sua silhueta materializar-se por sob capas de chuva e guarda-sóis. Talvez eu dançasse na chuva, a pegaria em meus braços para protegê-la como cena de filme antigo.

Oh, céus de Alagoinhas! Não chores mais! Deixe nossas lágrimas secarem!

Talvez, ela aqui apareça trajada da mais bela surpresa; quem sabe, me surpreenda no ato de pintar o seu retrato na busca de recuperar aquele poder ancestral dos pintores rupestres, o de materializar o tema pintado – aquela pintura mágica que tinha o poder de trazer ao artista primitivo a realidade do objeto. Vou pintá-la em um feliz encontro comigo.

Minha amada professora, de sotaque tão belo de minha terra, o mundo está em convulsão sob os ditames de guerra biológica invisível. Deixa de orgulho e vem até mim. Somos vulneráveis, os dias são ameaçadores. Para mim, apenas o amor deve vencer. A amo tanto! Receba minhas flores e sinta o aroma de meu sentimento em tempos críticos.


Ed Carlos Alves de Santana é baiano, natural de Alagoinhas, mestre em Artes Visuais em Processos Criativos pela EBA-UFBA. Escreve poesia, crítica de artes e atua como Professor de Desenho Artístico e Pintura na Faculdade Livre da Maturidade São Bento em Salvador.


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