Indígena brasileira lamenta perda irreparável de “bibliotecas”: anciões mortos pela COVID-19

O impacto da COVID-19 tem sido bastante doloroso entres os povos indígenas. A tradição oral, transmitida pelos mais velhos, é o que mantém sua cultura viva.

Puyr Tembe, vice-presidenta da Federação dos Povos Indígenas do Pará
Puyr Tembe, vice-presidenta da Federação dos Povos Indígenas do Pará
Foto | ONU Mulheres
Gráfico mostra mortes entre os povos indígenas brasileiros

Gráfico mostra mortes entre os povos indígenas brasileirosFoto | Reprodução de gráfico do Comitê Nacional de Vida e Memória Indígena

O impacto da COVID-19 tem sido bastante intenso e doloroso entres os povos indígenas. “O pós-pandemia vai deixar sequelas nas vidas de todos nós. Perdemos companheiros, parentas, nossos anciões, nossas bibliotecas. Isso é uma perda irreparável. Vidas de muitos anciões se foram. Esses não voltam mais. Bibliotecas de muitos povos indígenas que desapareceram”.

O desabafo é de Puyr Tembe, vice-presidenta da Federação dos Povos Indígenas do Pará e integrante da iniciativa Voz das Mulheres Indígenas. Ela tem trabalhado com tecnologia para monitorar o impacto da pandemia entre os mais de 200 povos indígenas que vivem no Brasil. A  tradição oral, especialmente transmitida pelos mais velhos – guardadores de saberes –  é o que mantém sua cultura viva.

 “Cinco das 10 terras indígenas mais vulneráveis à COVID-19 contam com registros de povos isolados e estão na Amazônia. Hoje uma de nossas maiores preocupações é que a pandemia chegue nestes territórios”, explica Puyr Tembe. Ela assinala que os conflitos territoriais se acentuaram, provocando invasões de terras e contágios decorrentes da circulação de não-indígenas nos territórios demarcados.  

“A pressão de grandes e médias mineradoras se soma a invasão em massa de garimpeiros, madeireiros e colonos, que aproveitaram a pandemia para intensificar ainda mais a extração e plantação ilegal. Exemplo disso são as terras indígenas Yanomami (RR), Raposa Serra do Sol (RR), Alto Rio Negro (AM) e Waimiri-Atroari (AM/RR), Alto Rio Guamá, Trincheira Bacana e Cachoeira Seca”, detalha.

 O chamado “novo normal” decorrente dos cuidados sanitários necessários durante e após a pandemia da COVID-19 está sendo discutido pelas lideranças indígenas e implica medidas constantes para a preservação dos povos e territórios.

Em 5 de novembro de 2020, o Comitê Nacional de Vida e Memória Indígena contabilizava 38.643 casos de COVID-19 entre 161 povos indígenas do Brasil, com 870 mortes. Os povos mais afetados são Kokama – onde ocorreu o primeiro registro da doença, no município amazonense Santo Antônio do Içá, em março -, Guajajara e Macuxi.

Matéria do UNIC Rio feita a partir de entrevista para a ONU Mulheres.

Matéria originalmente publicada em Nações Unidas Brasil em 09/11/2020 – Atualizado em 03/11/2020.


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