[Entrelinhas] Conhecendo negritudes com ‘Negro da Semana’

2020 foi um ano marcado por protestos antirracistas. Frente às brutalidades sofridas pela população negra, milhares de pessoas tomaram as ruas de diversas cidades, e a pauta se fez ouvir cada vez mais. Historicamente, o movimento Black Lives Matter é, talvez, o mais noticiado da luta antirracista contemporânea, e contou inclusive com o pronunciamento de pessoas brancas na internet. Mas… para além de postar #blacklivesmatter no seu Instagram, o que você fez para combater o racismo? Ou, melhor, para não contribuir com o fortalecimento das estruturas racistas da nossa sociedade?

O Alê Garcia, homem negro de Porto Alegre, criou (em 2019) o podcast ‘Negro da Semana’. Eu, Carol Cadinelli, mulher branca de Juiz de Fora, comecei (em 2020) a ouvir o podcast do Alê, depois de refletir sobre a quantidade diminuta de referências negras na minha vida (sintoma do #blacklivesmatter, sim). Ao final deste fatídico ano pandêmico, Alê Garcia já era considerado um dos 20 creators negros mais inovadores pela Revista Forbes; e eu, por minha vez, terminei o ano um pouco mais consciente sobre os milhares de referências incríveis das quais fui privada durante meus 24 anos enquanto branca vivendo em uma sociedade sistematicamente racista. E mais do que recomendar um podcast, quero recomendar aqui essa criação de consciência.

Através do calmo tom de voz de Alê Garcia (reproduzido em 1.5, me desculpe), eu tive a oportunidade de conhecer nomes grandiosos, os quais nunca tinha ouvido: Bill Withers, Zadie Smith, Sabotage, Sister Rosetta Tharpe. Tive, também, a oportunidade de ouvir representantes da cultura brasileira e da cultura negra – tal como Larissa Luz, Mc Rebecca, Rincon Sapiência, Sandra de Sá, Jair Oliveira, Antônio Pitanga e o célebre Gil – opinarem sobre assuntos que lhe são caros, realmente caros, como seus processos artísticos e criativos, suas vivências em família, suas trajetórias pessoais e profissionais.

Em ‘Negro da Semana’, o protagonista não é o racismo; mas a individualidade e a trajetória de cada um de seus personagens. Sem negar a influência da discriminação na vida de cada um, Alê faz a transformação discursiva do “artista negro” em simplesmente “artista”; do “negro” em “humano”. E, cá entre nós, humanizar é, sem dúvidas, a principal ferramenta contra o preconceito.

Ouça o podcast ‘Negro da Semana’ no Spotify:


Carol Cadinelli é jornalista, apaixonada por palavras. Escreve, edita, revisa, traduz, atua e, vez ou outra, fotografa. Atualmente, é editora na Trama e escritora nas horas vagas.



Apoie artistas nessa quarentena. Em tempos de cólera, amar é um ato revolucionário.

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